O final de ano não está sendo fácil para Jair Bolsonaro. Na retrospectiva de 2020, o isolamento político vivido pelo presidente é evidente. As opiniões controversas, a falta de diálogo com líderes que pensam diferente do seu governo e os ataques feitos por ele contra instituições, políticos e pessoas, ao longo dos últimos meses, custaram caro e o preço deve continuar sendo cobrado em 2021.
Líder do Poder Executivo, Bolsonaro vê os poderes Legislativo e Judiciário se movimentarem contra suas propostas. Na Câmara, por exemplo, o presidente manifestou apoio a Arthur Lira (PP-AL) para ocupar a presidência da Casa no lugar de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e viu partidos importantes se afastarem exatamente por causa dessa preferência.
Enquanto isso, Maia já reúne aliados em torno do nome que deseja para substituí-lo à frente da Câmara, Baleia Rossi (MDB-SP). A votação acontece dia 1º de fevereiro e Maia construiu a frente agregando partidos que vão da esquerda à direita. Trata-se de um fato auspicioso da agenda política para 2021, pois é a primeira vez que esta junção acontece desde a eleição de Bolsonaro.
Em meio à pandemia do coronavírus, Bolsonaro continua com a atitude negacionista e afirmou que não vai tomar a vacina contra a doença. Embora o governo tenha anunciado um Plano Nacional de Vacinação – ainda sem data para começar – é evidente que o presidente do país não é a favor da imunização em massa. Mesmo assim, o Poder Judiciário não se intimidou: o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a vacinação não será forçada, mas pode sim ser obrigatória.
Atacado pela má gestão da pandemia e pelas suspeitas envolvendo o filho Zero Um, Flávio Bolsonaro, o presidente continua condenando a imprensa e, nos últimos dias, decidiu conceder entrevista ao canal do YouTube do Zero Três, Eduardo Bolsonaro. Ali, o presidente desagregador encontrou um entrevistador que não iria rebater suas ideias. Como a coluna mostrou, Bolsonaro voltou a exaltar um torturador da ditadura militar para desviar o foco dos assuntos incômodos que têm envolvido seu nome.
Internacionalmente, Bolsonaro vem minando a tradicional postura apaziguadora da diplomacia brasileira com suas colocações agressivas. Um exemplo recente de desprestígio foi a derrota da desembargadora Mônica Sifuentes, que não conseguiu votos suficientes para conquistar um assento de juíza no Tribunal Penal Internacional.
Por último, o presidente precisou lidar com a prisão de um aliado para quem ele fez campanha há poucos dias. Nesta terça, 22, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), foi detido sob suspeita de participação em esquema de corrupção. Crivella tentou se reeleger na disputa que aconteceu em novembro com o apoio de Bolsonaro para conquistar votos. A estratégia não deu certo e Eduardo Paes (DEM) vai assumir o cargo no próximo ano.
O isolamento político aumenta a cada dia e nenhuma de suas táticas parece funcionar. Se a tendência continuar, 2021 será ainda mais difícil para o presidente da República.