O presidente Jair Bolsonaro adora fazer uma analogia sobre casamento. “Hétero”, de preferência. Segundo aliados, a tática é uma forma de permanecer se comunicando com o público conservador, que o ajudou a ser eleito presidente da República. Desta vez, contudo, o tiro saiu pela culatra. Literalmente.
Em vídeo que circulou intensamente nesta quarta-feira, 15, Bolsonaro afirma ter quase uma “união estável” com o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado pela Polícia Federal com dinheiro nas nádegas.
Os dois conversam sobre uma relação de 20 anos, como dizem, e o senador, vice-líder do governo, fala que Bolsonaro representa as bandeiras de “defesa da família” e “regate da moralidade”. E um detalhe que piora tudo é que o primo favorito de Carlos Bolsonaro, o Leo Índio, foi abrigado no gabinete do senador.
Além de ter sido uma cena escatológica, a que foi revelada pelos policiais que tiveram que tirar o dinheiro daquele recôndito, o fato ocorreu dias depois de o presidente Bolsonaro ter dito que acabou com a Lava Jato porque “não tem mais corrupção no governo”.
Analistas políticos acreditam que quanto mais eventos deste tipo surgirem no entorno do Bolsonaro, mais ele será visto como igual àquilo tudo que sempre esteve por aí, inclusive no quesito corrupção.
A aproximação com o centrão, e até a indicação do desembargador Kassio Nunes Marques com o aval de caciques políticos investigados, já geraram desgastes dentro do movimento bolsonarista raiz. E em parte da população que aderiu à campanha do ex-deputado do baixo clero na forte onda antipetista.
Por enquanto, a reação do governo certamente será tirar o sofá da sala, ou seja, tomar a vice-liderança do senador Chico Rodrigues. Mas isso não resolve o fato que está no relatório da Transparência Internacional, divulgado coincidentemente nesta semana: “está havendo um desmanche institucional no país e Jair Bolsonaro é um dos principais responsáveis por isso”. O dinheiro nos fundos pode ajudar na cristalização dessa imagem.