‘Vamos votar tudo o que for importante ao país’, diz líder de ‘superbloco’
'Somos hoje 70% governistas, mas respeitando também cada parlamentar que queira ir para a oposição', diz Fábio Macedo (Podemos-MA)
Oficializado no final do último mês, o “superbloco” no Congresso, como tem sido chamado, tem, ao menos por ora, uma tendência a ajudar o governo Luiz Inácio Lula da Silva na articulação de pautas na Câmara dos Deputados. Formado por MDB, PSD, Republicanos, Podemos e PSC, o grupo diz ter como prioridade o encaminhamento de matérias como o Bolsa Família, mas afirma que, quando necessário, adotará postura “crítica” em relação ao governo.
O MDB, por exemplo, lançou recentemente uma carta-compromisso reforçando a ideia. No documento, o presidente Baleia Rossi deixou claro que a atuação da legenda no Legislativo será “propositiva”, o que não quer dizer que será de alinhamento automático ao governo. “Nosso bloco, hoje, é 70% governista. A tendência maior do bloco é governo, mas respeitando também cada parlamentar que queira ir para a oposição”, afirma Fábio Macedo (Podemos-MA), o líder da frente.
A VEJA o deputado falou sobre os primeiros passos do bloco que tem potencial para provocar alguma reconfiguração do jogo de forças no Legislativo.
O bloco conta hoje com 142 deputados, o que é um número significativo, sendo praticamente um quarto da Câmara. Quais serão as prioridades do grupo? Nossa prioridade é votar tudo o que for importante para o país. Há duas medidas provisórias de grande importância, que é o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, e que com certeza o bloco, com muita boa vontade, quer dar andamento.
Como se alinham, hoje, em relação ao governo? Nosso bloco hoje é 70% governista. A tendência maior do bloco é governo, mas respeitando também cada parlamentar que queira ir para a oposição.
Isso pode vir a ser um entrave na hora de votações importantes? Antes mesmo da criação do bloco, conversamos sobre isso, os cinco partidos, sobre tentar ter o maior alinhamento possível em relação às pautas. Claro que unanimidade é mais difícil. Você vê, hoje no PL, que é o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, a gente já vê quase 40 deputados fazendo acenos para o governo.
Fala-se de que o superbloco seria um ‘novo centrão’. O senhor concorda? Não tem nada a ver isso de o bloco ter sido formado para fazer frente ao centrão, de derrubar o centrão. Antes mesmo, conversamos com o Arthur Lira, ele concordou, respeitou, teve zero divergência, e estamos todos alinhados, e o Brasil precisa disso. Chega de divisão, de polarização. Nós, do bloco, acreditamos nas mesmas coisas, que temos uma sintonia muito boa.
Essa relação de proximidade com o presidente da Câmara tem sido vista inclusive nas tratativas sobre o rito das medidas provisórias, que acabou virando uma queda de braço entre Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Como tem sido o diálogo sobre a tramitação nas comissões mistas, por onde passam as MPs? O Lira tem o apoio de todos os partidos na Câmara. A preocupação dele é que o rito que está hoje, que vem da pandemia, as MPs quando iam para as comissões mistas demoravam muito, quatro, cinco, seis meses. E com o rito de hoje, elas andam muito mais rápido, vão direto para os plenários. Isso destravou. O Lira não tem nada contra as comissões mistas. A preocupação é destravar, por isso ele tem apoio de todos os partidos na Câmara. Que se construa um prazo pelo menos, e a proporcionalidade também dos parlamentares. É injusto ter a mesma quantidade de senadores, que são 81, e a câmara tem 513 deputados. É desproporcional. E o governo, além é claro do país, é o que mais vai sair prejudicado nisso. Tem MPs que já podem caducar, no prazo de 30 dias, no final de abril. Como somos o maior bloco, na verdade, o único bloco, temos direito a três membros nas comissões mistas, caso continue sendo doze. Mas não vamos indicar os membros enquanto esse impasse não se resolver.