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PF vê ‘atuação direta e relevante’ de Bolsonaro em fake news sobre urnas

Em relatório ao STF, delegada apresentou resultados de investigações sobre live em que o presidente apresentou supostas fraudes eleitorais, sem comprovação

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 dez 2021, 19h51 - Publicado em 16 dez 2021, 18h37

Em relatório concluído em 13 de setembro e enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) aos cuidados do ministro Alexandre de Moraes, a Polícia Federal afirma que o presidente Jair Bolsonaro (PL) teve atuação “direta e relevante” em um processo de desinformação a respeito do sistema eleitoral brasileiro.

O documento obtido por VEJA, assinado pela delegada da PF Denisse Dias Rosas Ribeiro, foi produzido após uma investigação da PF sobre a live transmitida por Bolsonaro em 29 de julho, em que ele anunciou que faria revelações sobre fraudes nas urnas eletrônicas. O presidente, afinal, mostrou apenas dados sem qualquer comprovação. Ele esteve acompanhado do ministro da Justiça, Anderson Torres, que também participou da transmissão e leu trechos de relatórios que supostamente apontariam suspeitas.

“Este inquérito permitiu identificar a atuação direta e relevante do Exmo. Sr. Presidente da República JAIR MESSIAS BOLSONARO na promoção da ação de desinformação, aderindo a um padrão de atuação já empregado por integrantes de governos de outros países”, afirma a delegada.

A Polícia Federal apurou que houve uma reunião no Palácio do Planalto prévia à live, em 23 de julho, com as presenças de Torres, do diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, e dois peritos federais, Ivo de Carvalho Peixinho e Mateus de Castro Polastro. O então ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, participou do início da reunião, que também contou com a presença do coronel Eduardo Gomes, então assessor especial da Casa Civil, que apareceu na live anunciado pelo presidente como “analista de inteligência”. Todos os participantes da reunião, incluindo os ministros e Ramagem, foram ouvidos pela PF.

No encontro no Planalto, foi apresentada uma planilha que reuniria as supostas irregularidades na apuração de votos da eleição de 2014, que opôs Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), com a reeleição da petista. O material embasou declarações da live presidencial levantando suspeitas sobre o pleito.

Ouvidos pela PF, os dois peritos declararam que, com base apenas no que mostrava a planilha, externaram na reunião que não seria possível concluir que houve qualquer fraude nas eleições de 2014. Os dois peritos, Peixinho e Polastri, disseram ter sugerido no encontro que o documento fosse encaminhado à análise de um setor específico pela própria Polícia Federal.

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Segundo Peixinho, Ramos afirmou que isso não ocorreria porque o material seria apresentado pelo presidente em uma entrevista coletiva e que a preocupação do ministro era a “de não expor o Presidente da República em uma furada”. Polastri relatou ter havido, no dia seguinte, uma reunião no Ministério da Justiça em que reportaram as mesmas impressões a Márcio Nunes de Oliveira, secretário-executivo da pasta, sem a presença do ministro Anderson Torres.

A tal planilha foi elaborada por um homem chamado Marcelo Abrieli, também foi ouvido pela PF. Abrieli, que disse em depoimento ser formado no Ensino Médio como técnico em eletrônica e empresário do ramo de internet, afirmou aos investigadores que elaborou o material sobre as eleições de 2014 com base em dados que eram fornecidos pelo site de notícias G1, na tentativa de identificar “padrões matemáticos”, com o receio de que o “comunismo tomasse o Brasil”.

Questionado na oitiva se possui conhecimento formal em matemática, probabilidade e informática,  ele respondeu que não, mas que desde a infância é “autodidata” nessas áreas. Abrieli contou ter sido procurado por Ramos entre junho e julho, por meio de uma ligação. O ministro teria dito que estava acompanhado de Bolsonaro e colocado o telefonema no viva-voz, para que o presidente e Abrieli conversassem. O criador da planilha afirmou ter sido procurado depois pelo coronel Gomes, subordinado de Ramos, com quem manteve contato por algum tempo. Abrieli afirmou ter sugerido que os dados fossem submetidos a uma instituição que conferisse “credibilidade” aos dados, como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Ele relatou que já havia se reunido com Ramos e Bolsonaro no final de 2019, no Planalto, quando conversaram por cerca de uma hora a respeito de suas “descobertas”.

Segundo a PF, os depoimentos colhidos na apuração mostraram que “o processo de preparação e realização da live foi feita de maneira enviesada, isto é, procedeu-se a uma busca consciente por dados que reforçassem um discurso previamente tendente a apontar vulnerabilidades e/ou possíveis fraudes no sistema eleitoral, ignorando deliberadamente a existência de dados que se contrapunham a narrativa desejada, quase todos disponíveis em fontes abertas ou de domínio de órgãos públicos”.

A delegada federal afirma no relatório ao STF que a investigação encontrou “diversas inconsistências” nos depoimentos de Torres, Ramagem, Ramos, e do coronel Gomes e dos peritos, que “convergem em apontar que houve vontade livre e consciente dos envolvidos em promover, apoiar ou subsidiar o processo de construção da narrativa baseada em premissas falsas ou em dados descontextualizados, divulgada na live do dia 29 de julho de 2021”.

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“Restou caracterizado pelas narrativas das pessoas envolvidas que a chamada live presidencial foi um evento previamente estruturado com o escopo de defender uma teoria conspiratória que os participantes já sabiam inconsistente, seja pelos alertas lançados pelos peritos criminais federais, seja porque a mesma fonte que forneceu o suporte (pesquisas na internet) também fornece dados que se contrapõem às conclusões alcançadas”, escreveu a delegada Denisse.

Ela ainda afirma que “mesmo com a possibilidade de realização de processos formais de verificação da confiabilidade e veracidade dos dados utilizados, o que poderia ser feito inclusive por órgãos do governo, nada foi checado”.

O relatório diz, em conclusão, que a live presidencial foi feita “com o nítido propósito de desinformar e de levar parcelas da população a erro quanto à lisura do sistema de votação, questionando a correção dos atos dos agentes públicos envolvidos no processo eleitoral (preparação, organização, eleição, apuração e divulgação do resultado), ao mesmo tempo em que, ao promover a desinformação, alimenta teorias que promovem fortalecimento dos laços que unem seguidores de determinada ideologia dita conservadora”.

A delegada diz que a live pode, em tese, ser abrangida em delitos previstos pela lei que revogou a Lei de Segurança Nacional, texto sancionado em agosto de 2021. Os artigos seriam os referentes a “fazer propaganda, em público, de processo ilegal para subversão da ordem política ou social” e de “incitar a subversão da ordem política ou social”.

O relatório afirma, no entanto, que em relação à análise da live presidencial interessa mais correlacioná-la “no contexto de atuação de uma suposta organização criminosa que está em operação” e é alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal, ao qual ela pediu que a apuração seja anexada. “Especialmente porque, neste caso específico, há indicação de autoria, apresentação do modo de agir dos participantes e constatação da vontade livre e consciente na produção e/ou difusão de notícias não verdadeiras, convergentes com a hipótese criminal noticiada”.

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