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Por José Benedito da Silva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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O porta-voz que derreteu: o declínio do general Rêgo Barros

Desligado do governo após ficar meses sem funções, ele não conseguiu neutralizar Carlos Bolsonaro nem diminuir a hostilidade com a imprensa

Por Redação
Atualizado em 27 ago 2020, 11h48 - Publicado em 27 ago 2020, 11h43
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  • A trajetória do general Otávio Rêgo Barros como porta-voz do governo de Jair Bolsonaro chegou ao fim na noite desta quarta-feira, 26. Demitido após ficar meses sem exercer funções públicas, o militar foi escanteado diante da dificuldade que o presidente nutre em agir de acordo com o cargo que ocupa. Rêgo Barros deixa o posto acumulando constrangimentos com a família Bolsonaro e sem ter conseguido acabar com os constantes ataques feitos pelo presidente à imprensa.

    Rêgo Barros ingressou no governo em janeiro do ano passado com a missão de acabar com o clima de campanha que marcava o início do governo Bolsonaro. No currículo, ele trazia a experiência de ter revolucionado a comunicação do Exército, transformando a corporação na instituição federal com maior número de seguidores na internet. Também teve atuação destacada ao lado do ex-comandante Eduardo Villas Bôas, a quem aconselhou a divulgar o controverso tuíte de “repúdio à impunidade” às vésperas do julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Lula no STF, em abril de 2018.

    No governo, Rêgo Barros sugeriu que Bolsonaro fizesse transmissões ao vivo nas redes sociais para se comunicar diretamente com o eleitorado. As lives são até hoje um dos principais mecanismos de comunicação do presidente. O general assumiu as funções de transmitir boletins diários com a visão oficial do governo sobre os mais diversos assuntos e tentou construir pontes para melhorar a relação institucional com a imprensa. Foi por conta dessa estratégia que seu trabalho começou a ser mal visto pela ala ideológica da administração, capitaneada pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

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    Os constrangimentos começaram quando Rêgo Barros começou a organizar cafés da manhã para Bolsonaro se encontrar com jornalistas. As reuniões foram um desastre e ficaram marcadas pelas pérolas ditas pelo presidente, como a afirmação de que no Brasil não existia fome. No caso mais ruidoso, Bolsonaro usou a expressão xenófoba “de paraíba” para se referir ao governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). As críticas cresceram de tal forma que Carlos Bolsonaro entrou em ação e criticou o porta-voz nas redes sociais. Foi a deixa para o fim dos cafés da manhã.

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    Antes de entrar para o governo, Rêgo Barros estava em vias de ser promovido para o posto de general quatro estrelas, o mais alto da hierarquia no Exército. O Alto Comando, no entanto, optou por enviar um sinal de independência em relação ao governo e preteriu o porta-voz na leva de novas promoções, o que o levou a passar para a reserva da corporação.

    O general também acumulou desavenças com o chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), Fabio Wajngarten, que é próximos dos filhos de Bolsonaro. Aos poucos os pronunciamentos protocolares de Rêgo Barros perderam força, já que o presidente era aconselhado por membros da ala ideológica, incluindo Wajngarten, a manter contato diário com apoiadores e a se comunicar com a imprensa em um “cercadinho” montado na entrada do Palácio da Alvorada. Assim como os cafés da manhã, a aparições eram marcadas por declarações intempestivas e produziam sucessivas crises. Por volta do mês de dezembro, Rêgo Barros mal tinha funções no governo.

    O último pronunciamento oficial feito pelo general foi em março. Desde então, ele despachava internamente no gabinete subordinado à Secretaria de Governo, do ministro Luiz Eduardo Ramos. Seu futuro era incerto desde a recriação do Ministério das Comunicações, entregue a Fábio Faria (PSD), que inibiu até a influência exercida por Wajngarten neste setor do governo.

    Já Bolsonaro continuou priorizando a comunicação direta por meio de perfis nas redes sociais, mas, após a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz, foi aconselhado pelos militares do governo a moderar o discurso e a atuar numa versão “paz e amor”. A nova postura durou até o último domingo, 23, quando Bolsonaro disse que gostaria de dar uma “porrada” num repórter do jornal O Globo que havia lhe perguntado sobre depósitos feitos por Queiroz à primeira-dama, Michelle.

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