Não é só Balneário Camboriú – outras cidades que ‘engordaram’ suas praias
Solução tem sido adotada para conter a erosão costeira, um problema crescente no Brasil, que perdeu 15% de suas areias litorâneas entre 1985 e 2021
Engordar as faixas de areia das praias virou a solução para amenizar o problema da erosão costeira que atinge boa parte do litoral brasileiro. Um dos casos mais famosos é o de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, onde a Praia Central foi artificialmente alargada de 25 para 180 metros em alguns trechos. A megaobra foi feita em 2021, durante dez meses, ao custo de 66,8 milhões de reais.
No início deste mês, o mar, no entanto, retomou o espaço que era seu e engoliu cerca de 70 metros do “puxadinho” litorâneo. Como mostrou reportagem de VEJA publicada nesta semana, o fenômeno do sumiço de praias não é uma exclusividade de Camboriú. A área de praias, dunas e areais do país recuou 15% entre 1985 e 2021, segundo levantamento do instituto MapBiomas.
E não foi só Balneário Camboriú que teve a ideia de adotar o alargamento artificial da praia como solução — Balneário Piçarras, Praia dos Ingleses e Canasvieiras, todas em Santa Catarina, também passaram por uma obra desse tipo. O mesmo procedimento já foi feito na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 1969, na Praia de Iracema, em Fortaleza (CE), e na Praia Central de Jaboatão dos Guararapes, no Pernambuco. Há ainda um projeto para engordar a Praia de Ponta Negra, em Natal (RN).
A obra é feita com a ajuda de uma draga e um sistema de tubos, que retiram areia do fundo do mar e colocam na praia. “Engordar a praia funciona por um determinado tempo, porque se o mar estiver subindo e a frequência das tempestades aumentar ao longo do tempo, a previsão é de que a areia vai ser perdida novamente e tem que ser engordada de novo”, explica Pedro Walfir professor da UFPA e membro da equipe de zona costeira do MapBiomas. “É o melhor processo para evitar a erosão, mas é preciso calcular qual o volume de areia e qual o tamanho do grão da areia que vai colocar para manter o equilíbrio do ambiente”, completa.
Além do avanço de infraestruturas urbanas, as mudanças climáticas aceleram o processo erosivo — as praias são afetadas pela elevação do nível do mar e aumento da frequência das tempestades. “O engordamento de praia como de Balneário Camboriú é um processo que produz toneladas de dióxido de carbono. Portanto, o engorda de praia alimenta as mudanças climáticas, alimentando esse ciclo vicioso”, diz Paulo Horta, professor do Departamento de Botânica da UFSC.