MP denuncia cinco pessoas por assassinato de líder quilombola na Bahia
Ialorixá Mãe Bernadete foi morta a tiros na frente dos netos, em agosto; crime teria sido motivado por enfrentamento a líderes de facção criminosa

O Ministério Público da Bahia denunciou cinco pessoas pelo envolvimento no assassinato da ialorixá Maria Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, uma das mais expressivas lideranças quilombolas do país. A religiosa, que tinha 72 anos, foi morta no dia 17 de agosto na localidade conhecida como Quilombo Caipora de Pitanga dos Palmares, no município de Simões Filho (BA), após ser alvejada por 25 disparos de arma de fogo.
Apontados como autores dos disparos, Arielson da Conceição dos Santos e Josévan Dionísio dos Santos foram denunciados por homicídio triplamente qualificado. Sérgio Ferreira de Jesus foi apontado como partícipe porque, segundo o Ministério Público, forneceu informações sobre a rotina do local e da vítima aos atiradores. Ydney Carlos dos Santos de Jesus, vulgo “Café”, e Marílio dos Santos, conhecido como “Maquinista” ou “Gordo” e apontado como líder do tráfico de drogas na região, foram denunciados como autores intelectuais do crime.
Segundo o Ministério Público, Mãe Bernadete costumava se insurgir contra ilegalidades que ocorriam na comunidade quilombola, o que causava atritos constantes com líderes do tráfico na região. O crime teria sido motivado por uma discussão em torno da instalação de uma barraca de praia na margem de uma barragem dentro da comunidade, em área de proteção permanente, que seria explorada pelos líderes da facção Bonde do Maluco.
Mãe Bernadete foi assassinada na frente de seus netos, de 7, 13 e 23 anos, na casa que funcionava como sede da associação do quilombo Pitanga dos Palmares. Ela era coordenadora nacional da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e uma das principais vozes que denunciavam violências contra as populações quilombolas.
Cinco anos antes de ser morta, Mãe Bernadete viu seu filho Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo, ser assassinado. Flávio estava à frente da Conaq e era um dos líderes quilombolas mais respeitados da Bahia.