Fake news são combustível para a manutenção da greve
Lorotas que circulam em grupos de WhatsApp de caminhoneiros alimentam aqueles que defendem a continuidade da paralisação para 'mudar o país'
“O Exército pode derrubar o governo constitucionalmente após sete dias e seis horas de greve.” “O Planalto determinou o bloqueio do WhatsApp para dificultar a comunicação dos caminhoneiros.” “Temer ordenou um apagão elétrico no país caso a paralisação não acabe.”
Essas e outras fake news — desmentidas no blog Me Engana que Eu Posto — circulam nos grupos de WhatsApp de caminhoneiros e são combustível para a parte do movimento que defende seguir com a greve para “mudar o país”.
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo nesta segunda acompanhou esses grupos na rede social. As mensagens mostram que alguns dos caminhoneiros deixaram a pauta econômica — de reivindicações por preço mais baixo do diesel e fim da cobrança de pedágio para o eixo suspenso — e encamparam uma pauta política, pedindo a renúncia do presidente Michel Temer e a intervenção militar.
Segundo a reportagem, pululam nesses grupos notícias falsas que falam sobre uma queda iminente do governo ou de brechas constitucionais que permitiriam a tomada do poder pelas Forças Armadas. Tudo lorota, mas, aparentemente, lorota com poder de influência sobre os grevistas persistentes.
‘Intervencionistas’
A manutenção da greve, com veículos obstruindo estradas e a falta de combustível afetando o cotidiano da população, acontece mesmo após o acordo anunciado no domingo pelo governo, que cedeu às principais exigências do movimento.
Sem esconder certa incredulidade com a situação, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, tentou explicar a insistência daqueles que seguem com a paralisação a despeito de um acordo que, nas suas palavras, resolve “tranquilamente” os problemas da categoria. “São pessoas que querem derrubar o governo”, resumiu, acrescentando que caminhoneiros favoráveis à desmobilização estariam sendo ameaçados por “forças ocultas”. Fonseca ainda citou a presença de “intervencionistas” no grupo que quer manter a paralisação.