Expressão ‘narcomilícia evangélica’ motiva debate entre ministros do STF
André Mendonça questiona Gilmar Mendes sobre uso do termo em entrevista recente
Não pegou bem no Supremo Tribunal Federal (STF) a fala do ministro Gilmar Mendes em entrevista recente sobre a existência de uma suposta “narcomilícia evangélica” no Brasil. Nesta quarta-feira, 13, o também ministro André Mendonça — o “terrivelmente evangélico”, nas palavras do então presidente Jair Bolsonaro, que o indicou — emitiu uma nota pública para contestar o colega.
Em entrevista à Globonews na última segunda-feira, 11, Gilmar Mendes falava sobre o combate ao crime organizado no país quando citou a existência de uma frente criminosa entrelaçada a alas de igrejas evangélicas. “Recentemente o ministro [Luís Roberto] Barroso presidiu uma reunião no Supremo sobre essa questão. E um dos oradores falou de algo que é raro de se ouvir, de uma narcomilícia-evangélica que aparentemente se dá no Rio de Janeiro, onde haveria um acordo entre narcotraficantes, milicianos e pertencentes a uma rede evangélica”, disse o magistrado.
Em alusão a Gilmar Mendes, Mendonça afirma no comunicado emitido que “pessoas e autoridades” que têm conhecimento a respeito da prática de crimes devem dar o devido encaminhamento ao assunto. “Espera-se, assim, que eventuais condutas ilícitas dessa natureza sejam objeto de responsabilização, independentemente da religião professada de forma hipócrita, falsa e oportunista por quem quer que seja”, escreveu o ministro. Mendonça ainda afirmou que caso realmente existam pessoas se passando por fiéis evangélicos envolvidas em condutas criminosas, o próprio segmento evangélico é o maior interessado na apuração dos fatos.
Nota Pública. Assunto: notícia sobre suposta "narcomilícia evangélica". pic.twitter.com/mriI9diBqg
— André Mendonça (@MinAMendonca) March 13, 2024
Mendonça disse ainda que conversou com Mendes sobre o ocorrido e que o colega reafirmou seu “respeito à comunidade evangélica”, garantindo não ter havido “qualquer intenção em constranger membros”. Mendonça assinalou que o grau de “generalidade” da fala teve teor grave, discriminatório e preconceituoso, uma vez que foi dirigida a uma comunidade religiosa em “geral”, e ressaltou que um terço da população brasileira é evangélica, segmento cuja atuação se dá em comunidades e regiões inexistentes ao Estado, e na prevenção e no combate ao crime.