Em uma reunião ocorrida na casa do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), na noite da quarta-feira, 12, o DEM definiu os primeiros prazos para o lançamento da pré-candidatura do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta à Presidência da República. Segundo o cronograma, os dirigentes irão se encontrar no dia 24 deste mês, em um hotel em Brasília, onde serão analisados os resultados de uma pesquisa qualitativa que a sigla encomendou sobre a eleição de 2022. A partir dos resultados do levantamento, o DEM se organizará para oficializar o nome de Mandetta até o final de junho.
Lançar a pré-candidatura de Mandetta é uma forma declarada de contrapor o partido a João Doria (PSDB), que está determinado a concorrer ao Palácio do Planalto. DEM e PSDB podem ainda chegar a um acordo para seguirem juntos na corrida eleitoral do ano que vem, mas a cúpula demista está irritada com a demora dos tucanos em formalizar uma decisão. Além disso, a maioria dos caciques da sigla não concorda com a ambição de Doria de encabeçar a chapa de centro.
O movimento do DEM também é uma resposta à desfiliação do vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que acertou nesta sexta-feira, 14, a ida para o PSDB. Dirigentes do DEM afirmam que Garcia foi pressionado a mudar de partido como condição para que Doria o apoiasse como candidato ao governo de São Paulo na próxima eleição. Com o vice no tucanato, Doria acredita que neutralizará as pretensões do ex-governador Geraldo Alckmin e garantirá a presença de Garcia no pleito sem que seja necessária a disputa de uma prévia. O PSDB tem uma regra interna que garante ao político no exercício de um cargo Executivo a prioridade para se candidatar à reeleição. Este será o caso de Garcia caso Doria renuncie ao governo para disputar a Presidência.
Para firmar posição no cenário nacional (e para desferir mais um golpe na direção de Doria), o DEM intensificou as negociações para filiar Alckmin. Quadro histórico do PSDB, o ex-governador pretende voltar pela quinta vez ao Executivo paulista, reeditando a dobradinha que fez com Marcio França (PSB) em 2014. VEJA apurou que o presidente do DEM, ACM Neto, já fez o convite para Alckmin trocar de partido. Mesmo sendo um dos membros fundadores do PSDB, parece cada vez mais claro que o ex-governador não pensará duas vezes em trocar de sigla se sentir que não tem chances de disputar a indicação dos tucanos com Garcia. Os políticos ligados a Doria ainda tentam convencê-lo a concorrer a uma vaga de deputado federal, mas Alckmin dificilmente topará a empreitada.
Esse cenário deixou os caciques do DEM animados com a perspectiva de sucesso em relação a Alckmin. “Não podemos ficar sem um candidato em São Paulo. Alckmin é bem-vindo com todas as honras. No DEM, ele terá o caminho pavimentado para se lançar ao governo”, disse Pauderney Avelino, um dos dirigentes do DEM que estava presente na reunião na casa de Pacheco. Tucanos próximos a Alckmin afirmam que estão marcadas reuniões para a próxima semana, em São Paulo, com o intuito de discutir a situação do ex-governador no PSDB e as outras propostas que ele tem na mesa, vindas do PSB e do PSD.
Sem mais conversa
Na reunião da última quarta, estiveram na casa de Pacheco, em Brasília, os quadros mais expressivos do DEM. Além de ACM Neto e de Mandetta, foram ao local os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, e do Mato Grosso, Mauro Mendes, o ex-ministro Mendonça Filho, o ex-governador José Agripino Maia, o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho, e os prefeitos de Florianópolis, Gean Loureiro, e de Salvador, Bruno Reis. Doria foi assunto em todas as rodas de conversa, sempre com adjetivos pouco elogiosos — “autoritário” foi um dos mais usados.
ACM Neto telefonou nesta sexta, 14, para integrantes do DEM e deu a ordem para isolar Doria politicamente. O ex-prefeito de Salvador disse aos colegas que se dispõe a conversar com outros nomes do PSDB, como o presidente da sigla, Bruno Araújo, o senador Tasso Jereissati e o deputado Aécio Neves, mas que acabaram as tratativas para 2022 com o governador de São Paulo.
Pelo Twitter, ACM Neto fez uma série de críticas à atuação política de Doria. “A postura desagregadora do governador de São Paulo amplia o seu isolamento político e reforça a percepção do seu despreparo para liderar um projeto nacional”, declarou. Esse é mais um golpe duro para o “Polo Democrático”, o grupo formado às vésperas da Páscoa com o intuito de buscar uma candidatura única para rivalizar com o lulismo e o bolsonarismo em 2022. Ciro Gomes (PDT) é outro integrante dessa coalizão que se recusa a abrir mão da candidatura ao Planalto.
Na pesquisa divulgada pelo Datafolha nesta semana, Lula (PT) lidera as intenções de voto com 41%, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com 23%. Em seguida estão o ex-juiz Sergio Moro (sem partido), com 7%, Ciro Gomes, com 6% e o apresentador Luciano Huck (sem partido), com 4%. Doria contabiliza 3% das intenções de voto, enquanto Mandetta e João Amoêdo (Novo) apresentam 2%.