Como os adversários estão explorando as suspeitas contra Moro
Ex-juiz é alvo de apuração no TCU, que quer saber quanto ele ganhou da consultoria Alvarez & Marsal, que tem como clientes empresas atingidas na Lava Jato
A apuração do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre os rendimentos do ex-juiz e presidenciável Sergio Moro (Podemos) como consultor da Alvarez & Marsal, que atende várias empresas que quebraram após a Operação Lava Jato, se tornou a principal munição para os ataques dos adversários nos últimos dias nas redes sociais.
Como mostrou reportagem da edição de VEJA desta semana, 75% de tudo o que a consultoria informou receber de honorários no Brasil vem de companhias enroladas na Lava-Jato. Ao todo, foram quase 42,5 milhões de reais — 1 milhão de reais por mês da Odebrecht e da Atvos, antiga Odebrecht Agroindustrial, 150.000 da Galvão Engenharia, 115.000 reais do Estaleiro Enseada (que tem como sócias três construtoras investigadas em Curitiba, Odebrecht, OAS e UTC) e 97.000 reais da OAS.
No Twitter, o também presidenciável Ciro Gomes (PDT) escreveu que “é mais fácil desfritar um ovo do que Moro conseguir provar que não comeu grana da Odebrecht, da OAS e de outras condenadas da Lava Jato”. “Por enquanto, o juiz mentiroso está tentando criar um tipo de alquimia contábil, a que consegue separar, no lucro total dividido aos sócios, a origem de cada centavo. Ora Moro, não era você mesmo que dizia que uma só gota de dinheiro sujo apodrecia todo o caixa de uma empresa?”, provocou o pedetista.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) também anunciou pela rede social que quer abrir uma CPI para investigar suposto conflito de interesses envolvendo o ex-juiz e ex-ministro da Justiça. “Vou pedir uma CPI por conflito de interesse: a Alvarez & Marsal foi contratada para fazer a recuperação judicial das empresas que foram processadas pelo juiz da 13ª Vara de Curitiba. Quem a empresa contratou como consultor? Foi Moro”, escreveu o petista.
Outros políticos do PT passaram a cobrar que Moro torne públicos os dados de quanto recebeu. A Alvarez não informou ao ministro Bruno Dantas, do TCU, os valores pagos ao ex-juiz por não reconhecer o tribunal como órgão competente para investigar uma negociação de caráter privado. “TCU retira sigilo de documentos do caso Moro e Alvarez & Marsal e desespero toma conta dos Lavajatistas. Por quê? Qual a dificuldade de informar o salário e qual foi o ‘trabalho’ realizado? Tem muito caroço nesse angu!!”, insinuou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Moro atuou na área de disputas e investigações da consultoria. Tanto o ex-juiz como a empresa afirmam que ele não trabalhou em casos envolvendo a recuperação judicial de empresas afetadas pela operação anticorrupção que ele conduziu como magistrado.