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Por José Benedito da Silva
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Adriana Ferraz. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Chegada de Leite ao comando do PSDB expõe temor por sobrevivência da sigla

Em entrevista a VEJA, prefeito da insurgente ala paulista critica tentativa de monopolização partidária e diz que legenda sofre crise de identidade

Por Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 fev 2023, 16h32 - Publicado em 17 fev 2023, 16h03

A chegada de Eduardo Leite ao comando do PSDB estremeceu alas do partido que veem com ressalvas as últimas movimentações do governador do Rio Grande do Sul à frente da legenda. O adiamento das convenções de diretórios da sigla e a nomeação de nomes do círculo restrito de Leite para os principais cargos da Executiva Nacional são algumas das principais medidas indigestas encampadas até agora.

O PSDB tem hoje uma direção nacional provisória, a qual deverá se tornar definitiva apenas em novembro, quando acontece a próxima convenção nacional. Enquanto isso, Leite alocou nos dois principais cargos da cúpula da legenda — a secretaria-geral e a tesouraria — os tucanos Paulo Abi-Ackel e o prefeito de Santo André (SP) Paulo Serra, num gesto que desagradou a correligionários paulistas, que se queixam da falta de representatividade do maior estado do país no quadro do partido. Enquanto Abi-Ackel é próximo de Aécio Neves, Serra caminhou com Leite nas prévias do partido. Na ocasião, disputava a vaga tucana na corrida presidencial com o então governador de São Paulo João Doria — de quem a desprestigiada ala paulista é herdeira política. Daí as queixas de uma aproximação indistinta do agora presidente nacional do partido com Aécio, um dos principais rivais de Doria.

VEJA conversou com o prefeito de Jundiaí Luiz Fernando Machado (PSDB), um dos integrantes da linha de frente do agora ex-tucano Doria, sobre as movimentações recentes e os rumos do partido que, outrora um dos mais poderosos do país, hoje se vê com um quadro minguado e pouco expressivo no cenário político nacional. Para além da atual composição da direção, as preocupações se voltam, naturalmente, às pretensões eleitorais e à própria sobrevivência da sigla. “Será que o PSDB perdeu sua identidade? O eleitor que a gente costuma chamar de bolsonarista foi um eleitor nosso. Por que fomos substituídos? Será que é porque não temos identidade?”, questiona o prefeito. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

O senhor tem se referido à necessidade de um resgate do ‘PSDB do Mário Covas’ ou um ‘PSDB raiz’. O que isso significa? Precisamos estabelecer um debate do mais alto nível, voltado estritamente aos interesses do país. Era essa a proposta do Mário Covas. Um verdadeiro estadista, e não um político comum e tradicional. Ele é uma referência. Percebo discussões voltadas ao campo do personalismo, ou seja, de se personificar a discussão partidária, enquanto o entendimento que São Paulo deu na existência do PSDB foi a formulação de políticas públicas de qualidade. Tudo aquilo que se tem de legado no estado de São Paulo com relação à implementação de políticas públicas eficientes, foram construídas a partir daqui, do grupo liderado por Mario Covas e André Franco Motoro.

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A constituição da Executiva Nacional Provisória hoje, comandada por Leite, é vista com ressalvas pela ala paulista da sigla. Qual o motivo? Você pensar na construção de um pós-processo de 2022, político-nacional e também estadual, sem contar com a história que o PSDB construiu de São Paulo para o PSDB Nacional, acho no mínimo, sob a ótica política, ineficiente. Na composição dessa chamada Executiva Nacional Provisória, ela não representa exatamente o que é o PSDB hoje. Que são os espaços não apenas de São Paulo, mas por exemplo o de Raquel Lyra [governadora de Pernambuco], que na minha opinião é um dos maiores expoentes do PSDB, junto com o Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul. Quando percebi a composição da Nacional dentro dos aspectos mais definidores do partido, e não vi a participação não apenas de São Paulo, mas também dessas lideranças, me chamou a atenção. Claro, o período é de transição, consolidação. Respeitamos a capacidade que o Leite tem de liderar esse processo. Inclusive, legitimamos ele. Mas não dá, na construção de um projeto que seja coletivo, você monopolizar espaços da estrutura partidária que são definidores. Queremos entender quais serão esses próximos passos. Qual PSDB surgirá a partir dessas alianças? Somos aqui em São Paulo um diretório que deu o maior volume de prefeitos ao partido nas últimas eleições. Para nós é interessante entender como será tratado o nosso legado. Vejo o adiamento das convenções do partido como uma justificativa que não encontra amparo naquilo que São Paulo sempre produziu na ótica partidária. Não somos um diretório provisório, somos um diretório consolidado. Quando se faz um adiamento sob qualquer justificativa, não é assertivo. Você só gera um ambiente de insatisfação. E por que isso? Só me vem uma única alternativa, que é a consolidação de um grupo em detrimento de outro. 

Nas últimas eleições, o PSDB teve seus piores desempenhos da história nas urnas e viu minguar a representatividade de parlamentares e governadores eleitos. Ao mesmo tempo, o grupo do qual o senhor faz parte critica as últimas decisões da atual direção nacional de estarem minando a própria sobrevivência do partido. Não é paradoxal? O PSDB, até as eleições de 2022, sempre teve um protagonismo não de pessoas, mas de políticas públicas. O que me deixa desejoso é que o PSDB construa um caminho para discutir com a sociedade os próximos passos, e não personalidade política. Se isso vier a acontecer, será um erro político enorme. Já somos hoje um partido diminuído sob o aspecto da representação congressual, e isso nos impõe um modelo de agrupamento com outros partidos, como foi feito com o Cidadania no caso da federação. Ou seja, já estamos buscando linhas de sobrevivência. Se ainda, dentro desse conceito de uma nova Executiva, tiver um ranço do passado, aí de fato, a gente passa a ser um partido que discute pessoas, e que não tem capacidade de discutir projetos. Quando vejo a Executiva Nacional, por exemplo, desconsiderar a participação enquanto um protagonista do ex-governador de São Paulo Rodrigo Garcia, me gera a sensação de que estamos buscando a discussão de pessoas. Naturalmente, vamos respeitar a condução, mas a retórica sem acompanhamento dos espaços políticos da estrutura partidária não convencerá essa turma que ajudou a carregar o PSDB nas costas.

Temos no ano que vem eleições municipais, que serão um preâmbulo e uma vitrine para as eleições presidenciais de 2026. A disputa pelo voto da “terceira via” não vingou em 2022. É possível esse resgate no próximo pleito? Existe uma disposição de o PSDB ocupar o espaço político de eleitores que não são Lula e nem Bolsonaro, como foi no último ano? À medida que a gente não tem uma identidade com relação ao PSDB para o Brasil, por que seríamos votados? Se quer disputar o processo nacional em 2026, como a sociedade vai nos encarar? Ela vai nos encarar no nosso desejo, que é sermos uma centro-direita, uma esquerda, uma direita? Para a sociedade nos encarar, precisamos parar de discutir pessoas e começar a discutir projetos. Quais os projetos que temos a oferecer à sociedade? Mas não vejo temas sendo tratados. Porque se não, novamente, vamos cair na armadilha de que o eleitor pode ir por vias terceiras, e ele não escolhe, ele polarizou o processo nacional, e isso não vai ser desfeito num curto espaço de tempo. Você pode modificar partidos, você não modifica valores da sociedade. Qual o PSDB que será ofertado em 2026? Quais valores e projetos? Como a sociedade vai nos identificar? Porque não é como nós queremos ser identificados, é como eles nos identificam. O que é que temos dito que gerou ruído, que não é de agora, que nos tirou em São Paulo, por exemplo, o eleitor que era nosso? O eleitor que a gente costuma chamar de bolsonarista é um eleitor que foi nosso do PSDB. Quem nos elegeu em São Paulo foi o mesmo eleitor que elegeu o Bolsonaro. E por que fomos substituídos? Será que é porque não temos identidade? O eleitor olha para um tucano e vê o quê? Uma figura de centro-esquerda, de direita, extrema-direita? Precisamos ter uma identidade, e essa identidade parte de um projeto a ser oferecido para a sociedade. 

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