Caso Dom e Bruno: réus mudam versão em audiência com bronca e discussão
Acusados de duplo assassinato prestaram o primeiro depoimento à Justiça na terça-feira, 9, e alegaram legítima defesa
Os três acusados pelo assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips prestaram o primeiro depoimento à Justiça na última terça-feira, 9, quase um ano depois do crime, que ocorreu em 5 de junho de 2022. Os réus mudaram a versão contada inicialmente e passaram a dizer que agiram em legítima defesa.
Os pescadores Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”, e Jefferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, confessaram novamente os assassinatos, mas alegaram que Bruno teria feito ameaças e atirado primeiro. Os réus estão presos e participaram da audiência por videoconferência. Amarildo também confessou ter esquartejado e colocado fogo nos corpos.
Ele inocentou o irmão, Oseney da Costa de Oliveira, o “Dos Santos”, que também é réu pelo crime. “O ato quem cometeu fui eu e Jefferson. Meu irmão não tem nada a ver. Eu me sinto muito culpado de meu irmão estar preso por causa de mim”, disse Amarildo. Em seu depoimento, Oseney chorou e negou participação no assassinato.
No início da audiência, o juiz Fabiano Verli deu uma bronca na administração dos presídios federais de Catanduvas, no Paraná, e Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, onde os réus estão presos. O magistrado reclamou da falta de cooperação, descumprimento de ordens judiciais e registrou “enorme decepção” com as penitenciárias. “Não é favor, é obrigação. Essa Justiça está farta de lidar com os presídios federais. Eles não têm o direito de fazer o que estão fazendo”, afirmou.
Também houve uma discussão entre o juiz e uma das advogadas dos réus, Goreth Campos Rubim, após a defesa afirmar, sem provas, que Bruno teria sido exonerado da Funai por envolvimento em um massacre contra indígenas. Reportagens divulgadas logo após a morte do indigenista mostram que, na verdade, ele foi demitido por sua atuação contra o garimpo ilegal em territórios indígenas e por divergências com a gestão de Marcelo Xavier, que comandou a fundação no governo de Jair Bolsonaro.
O juiz pediu respeito à memória de Bruno e afirmou que a defesa estava “tumultuando” desde o início das audiências de instrução do caso. Verli também ressaltou que os advogados não apresentaram provas do que estavam dizendo e nem de que a Funai negou acesso a documentos, como alegam. “Antes de qualquer coisa, a senhora tem que provar razoavelmente, eu não peço aqui uma prova diabólica. O resto é tumulto. Fale menos e junte mais documentos”, declarou o juiz. “Desde o recebimento da denúncia o senhor tem dificuldade de atuar de forma parcial. Se coloque no seu lugar que nós também nos colocaremos em nosso lugar”, respondeu Goreth.
As partes do processo têm até esta quinta-feira, 10, para pedir novas diligências. Depois, o juiz decidirá se os acusados irão a júri popular. Assista os trechos da audiência abaixo.