A mais nova tentativa de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) de emplacar uma narrativa falsa na campanha eleitoral tem relação com uma suposta crítica de banqueiros ao atual governo em razão da criação do Pix, sistema de transferências bancárias que caiu no gosto da população.
Depois que a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) assinou um manifesto de apoio às urnas eletrônicas e à democracia, bolsonaristas começaram a difundir que a oposição ao atual presidente por parte dos bancos é justificada pelo surgimento do Pix, que teria diminuído os lucros dessas instituições nos últimos anos.
O primeiro a levantar o argumento foi o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), em seu Twitter: “Eles (os banqueiros) podem assinar manifestos contra porque estão livres da perseguição, sim, mas o Banco Central independente coloca em prática o Pix, que por ano transferiu mais de 30, 40 bilhões de reais de tarifas que os bancos ganhavam a cada transferência bancária e hoje é de graça”.
mas o Banco Central independente coloca em prática o PIX, que por ano transferiu mais de 30, 40 bilhões de reais de tarifas que os bancos ganhavam a cada transferência bancária e hoje é de graça.
— Ciro Nogueira (@ciro_nogueira) July 26, 2022
Em sua página oficial do Instagram, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) compartilhou uma foto do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a manchete “Banqueiros têm a esperança que Lula revogue o Pix”.
Outra a tratar do assunto foi a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), também em seu Twitter. “Banqueiros assinam carta em defesa das urnas e da democracia. Bolsonaro manda um abraço por Pix pra eles. Lembrando que o custo do Pix é R$ 0,00 — causando prejuízo bilionário para banqueiros”, escreveu a parlamentar.
O discurso bolsonarista é infundado porque, como mostrou VEJA, os quatro maiores bancos do Brasil tiveram o maior lucro da história no primeiro trimestre de 2022. Juntos, Santander, Bradesco, Itaú e Banco do Brasil registraram lucro líquido de 24,3 bilhões de reais entre janeiro e março deste ano. A receita de serviços de conta corrente, que incluem as tarifas cobradas por outros meios de transferência, teve queda de 5,7% em relação ao ano anterior — o que representa 1,5 bilhão de reais, valor que, apesar de significativo, não é determinante para o lucro das instituições.
Além disso, como mostra o Radar Econômico, a consolidação do novo sistema de pagamentos virou mote para as instituições oferecerem novos produtos e serviços, como linhas de crédito baseadas exatamente no Pix. O Santander, por exemplo, lançou uma modalidade de parcelamento via Pix com taxas de juros de mais de 2% ao mês.