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As teses sobre a Covid-19 que viralizam, mas não resistem à dura realidade

Mitos que circulam principalmente em perfis bolsonaristas falam de hospitais vazios, mortalidade menor que a H1N1 e hipernotificação de casos de coronavírus

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 abr 2020, 13h37 - Publicado em 21 abr 2020, 13h25

Desde o início da pandemia, um outro vírus parece se espalhar com mais força e velocidade do que o próprio coronavírus, o da desinformação. Com interesses políticos escusos por trás, a cada dia surge uma nova teoria para tentar minimizar a doença, que já matou mais de 2.500 pessoas no Brasil e 171.000 no mundo. Nas redes sociais, principalmente de grupos de direita, esses mitos encontram terreno fértil e se convertem em milhares de compartilhamentos. Não passam, no entanto, de teorias baratas que não resistem à dura realidade da crise.

Na primeira semana de abril, circulou em grupos de WhatsApp um vídeo em que um homem dizia que o hospital de campanha montado no estádio do Pacaembu, em São Paulo, estava vazio. “Aqui é a central da epidemia. Todo mundo que está com problema vem pra cá, pra passar por uma triagem. Tem todo um cenário de guerra montado lá dentro, tendas. Mas olha isso: vazio, sem ninguém”, dizia ele, em 8 de abril.

A declaração não correspondia à verdade. Primeiro, o local havia sido inaugurado há apenas três dias. Segundo, trata-se de um “hospital de portas fechadas” – ou seja, os pacientes não vão até lá para serem atendidos, mas são transferidos de outros hospitais da rede pública. Terceiro, naquele dia, 29 leitos do hospital estavam ocupados. Hoje, a situação já é bem pior, com 79 internados.

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Também pipocaram vídeos semelhantes com hospitais vazios no Rio de Janeiro e em Fortaleza. Mesmo se fosse verdade à época em que foram divulgados, a teoria, infelizmente, não sobreviveria no decorrer dos dias. Nesta semana, o Ceará chegou ao limite e está com quase 100% das vagas de UTI preenchidas. Na Grande São Paulo, essa ocupação é de 80%, enquanto na cidade do Rio de Janeiro já supera 90%. Em estados como Amazonas, Pernambuco e Pará, a situação é alarmante, com quase 90% dos leitos preenchidos.

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No início da pandemia, corria também a tese de que a Covid-19 mataria menos no Brasil do que o H1N1 em 2009. Um dos principais defensores dessa teoria era o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que virou conselheiro informal do presidente Jair Bolsonaro e chegou a ser cotado para o cargo de ministro da Saúde, agora ocupado por Nelson Teich. Na semana passada, o número de mortes provocadas pela Covid-19 superou o do H1N1 em 2009, o ano-auge da doença, de aproximadamente 2.000 óbitos.

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Em março, o próprio Bolsonaro havia previsto que o coronavírus vitimaria menos do que a H1N1 em 2019, cerca de 800 pessoas. “A previsão é não chegar a essa quantidade de óbitos no tocante ao coronavírus”, disse o presidente, sendo agora desmentido pelos balanços de abril.

Alimentada pela fake news do “primo do porteiro aqui do prédio” – sobre supostos pacientes que morreram de outras causas, mas que teriam sido registrados como vítimas de coronavírus – , outra tese que viralizou foi a de que os estados estavam acrescentando à contagem da Covid-19 mortes ocorridas em outras circunstâncias. Boa parte dessas mensagens tinha o apoio de robôs para viralizar nas redes. Na verdade, o que acontece de fato é o inverso: pela impossibilidade de testar toda a população, o número de óbitos por Covid-19 é subnotificado, como admitiu o próprio ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.

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