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Os avanços no tratamento da perda de olfato, mais comum após a Covid-19

Condição tem diversas causas, entre elas a infecção pelo coronavírus. Especialista conta quais são os novos recursos para diagnosticá-la e superá-la

Por Marco Aurélio Fornazieri*
Atualizado em 6 mar 2024, 09h55 - Publicado em 6 mar 2024, 09h52

O interesse e a pesquisa sobre tratamentos para a perda de olfato, associada ou não à Covid-19, se intensificaram nos últimos anos. Antes da infecção pelo coronavírus, que pode apresentar essa repercussão, já se estimava que cerca de 5% da população mundial apresentava algum grau de perda olfatória temporária ou permanente.

E essa porcentagem aumentou devido à pandemia. Somente entre os infectados que sofreram alterações no olfato e no paladar, estima-se que cerca de 15 milhões, ou 5% dos pacientes, permaneceram com esses sintomas de forma duradoura após dois anos depois da infecção aguda.

Felizmente, a perda permanente do olfato como sequela da Covid-19 é rara. Mas, para quem apresenta essa condição, as consequências para a saúde física e mesmo psíquica são devastadoras.

Vários estudos comprovam como esse déficit leva à diminuição importante da qualidade de vida, pois a capacidade de cheirar desempenha um papel crucial em muitos aspectos do cotidiano, incluindo a segurança alimentar, a detecção de perigos ambientais, os relacionamentos sociais e o bem-estar emocional.

A perda duradoura do olfato, intitulada pela medicina como anosmia, dificulta detectar odores de alimentos estragados, produtos químicos tóxicos ou sinais de fogo, o que pode aumentar o risco de intoxicações alimentares, acidentes e até isolamento social. A situação ainda pode reduzir o prazer das refeições e levar a mudanças na dieta e à perda de peso.

Também pode estar associada a sintomas de depressão e ansiedade e, em alguns casos, é necessário passar por uma avaliação e tratamento psiquiátricos.

+ LEIA TAMBÉM: Por que e como perdemos o olfato?

Embora ainda não haja uma solução definitiva para a anosmia, várias abordagens têm sido exploradas e desenvolvidas por pesquisadores, enquanto o uso de algumas medicações prescritas previamente para tratar o distúrbio caíram em desuso nos últimos anos – caso do zinco oral.

O treinamento olfatório, por exemplo, tornou-se uma prática e recomendação geral dada por nós, otorrinolaringologistas. A terapia consiste em expor o paciente a uma variedade de odores distintos, duas vezes ao dia. Isso pode envolver cheirar frascos contendo substâncias odoríferas de café, canela, cravo, hortelã e manjericão ou até mesmo alimentos. A ideia por trás desse treinamento é ajudar a reativar e reajustar os receptores olfativos e as conexões neurais associadas ao olfato.

Quanto à eficácia da técnica, os resultados têm sido variáveis. Alguns estudos relataram melhorias na capacidade olfativa e na qualidade de vida após o treinamento, enquanto outros mostraram uma recuperação mais modesta ou com pouca efetividade. O sucesso pode depender de vários fatores, como a gravidade do problema, a adesão do paciente ao treinamento e a extensão do dano ao sistema olfativo.

Acompanhando o treinamento olfativo, atualmente os principais centros internacionais especializados em olfato e paladar desenvolvem tratamentos complementares. Entre eles, estão a administração de medicamentos diretamente no nariz, como lavagens com corticoides, a estimulação elétrica dos nervos olfativos para promover sua regeneração, a aplicação de insulina no órgão olfativo e de plasma rico em plaquetas.

O plasma rico em plaquetas melhorou o olfato em 57% dos pacientes comparado com 8% daqueles que utilizaram o placebo, logo uma chance 12 vezes maior de melhora, de acordo com um estudo publicado no jornal científico do Fórum Internacional de Alergia e Rinologia.

Nesse procedimento, o sangue do paciente é colhido e processado para separar a parte mais rica em fatores de crescimento do nervo. Depois de pronto, o plasma é aplicado no nariz do indivíduo. É um método simples, realizado no próprio consultório com anestesia e seringa, capaz de oferecer uma melhora parcial.

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No campo das novas apostas para a anosmia, outra iniciativa relevante foi a união de pesquisadores europeus e americanos em um projeto de tornar realidade o olfato biônico, uma tecnologia que visa replicar ou substituir a função do sistema olfativo humano através de dispositivos eletrônicos. A ideia é criar sensores ou sistemas que possam detectar e distinguir diferentes odores de forma semelhante ao olfato humano e serem captados por eletrodos implantados no cérebro.

Além disso, há novidades no diagnóstico. A mais expressiva é um teste olfatório totalmente digital, com tecnologia e patente desenvolvidas no Brasil, apresentada no último Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial.

A iniciativa representa grande avanço na área, em âmbito mundial, tanto para identificar as diferentes doenças causadoras de desordens do olfato e paladar, como a anosmia, como para medir o efeito desses novos tratamentos sendo desenvolvidos. A grande notícia é que a tecnologia já está disponível no mercado.

* Marco Aurélio Fornazieri é otorrinolaringologista, coordenador do comitê de Inovações da Academia Brasileira de Rinologia e membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF). É professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e da  Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR)

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