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Outubro Rosa: um olhar sobre o que nem sempre se fala

Especialista aborda um dos principais efeitos colaterais do tratamento em mulheres mais jovens, o risco de infertilidade

Por Pedro Exman*
3 out 2023, 08h30

Chega outubro, e vemos no Brasil e no mundo uma diversidade de anúncios e laços cor de rosa avisando a chegada do Outubro Rosa, mês que visa ampliar a conscientização sobre a prevenção do câncer de mama. Não se discute a importância dessa campanha e, principalmente, da educação da população feminina (e masculina) sobre a realização de exames capazes de resultar no diagnóstico precoce do tumor.

Afinal, estamos falando do câncer feminino mais comum no mundo. Segundo dados no Instituto Nacional do Câncer (Inca), cerca de 75 000 novos casos de câncer de mama serão diagnosticados em mulheres brasileiras em 2023.

Felizmente, a maioria dos diagnósticos precoces resultará em cura, sobretudo devido aos avanços no tratamento. Mal novas medicações chegam ao mercado logo são superadas por drogas ainda mais inovadoras e potentes.

O preço desse sucesso, mesmo com os progressos na área, vem em forma de um número considerável de efeitos colaterais que afetam a qualidade de vida e a rotina das pacientes. E, aí, vemos que outubro não é tão rosa assim. E que a campanha anual falha em endereçar o impacto dos tratamentos e quanto é difícil para as pacientes retornarem a sua vida de antes do diagnóstico.

Um efeito colateral relevante em que quase 50% das pacientes que estão em idade reprodutiva é o aumento do risco de o tratamento gerar infertilidade. Um desfecho que pode ser devastador do ponto de vista psicológico, social e físico. A paciente que já está com sua autoestima baixa, ao perceber que não poderá (ou terá menos chances) de engravidar, recebe um knock-out na sua feminilidade.

Antes um campo carente de novidades, agora pesquisas demonstram que existem ao menos três estratégias efetivas que aumentam em muito a chance de essas mulheres engravidarem após o tratamento.

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+ LEIA TAMBÉM: O câncer de mama, na visão das pacientes

O uso de drogas antitumorais pode acometer também a eficácia da ovulação nas pacientes jovens e em idade fértil, induzindo uma menopausa precoce. O avanço das técnicas de preservação de óvulos e/ou embriões em procedimentos em clínicas de fertilidade é inegável. Em pacientes oncológicas, existem protocolos que induzem a ovulação de forma eficaz em menos de 15 dias e as técnicas de congelamento se mostraram muito efetivas para a sobrevivência e conservação desta única célula, possibilitando uma gestação futura.

Vale lembrar que essas técnicas de preservação de óvulos são seguras e podem ser realizadas após o diagnóstico de câncer de mama, não havendo interferência no tratamento ou no prognostico oncológico. Além disso, o uso de drogas hormonais que levam a uma total inibição dos ovários, causando uma espécie de dormência controlada nos órgãos sexuais femininos, mostrou-se uma boa estratégia para a preservação de função ovariana e da fertilidade, quando iniciado junto à terapia contra o câncer.

No final de 2022, o congresso americano de câncer de mama em San Antonio, nos EUA, trouxe informação relevante nesse quebra-cabeça entre tratamento do câncer de mama, infertilidade e gestação. Muitas pacientes necessitam de tratamento hormonal por cerca de cinco anos após a cirurgia, radioterapia e quimioterapia (o que varia caso a caso). Só que tais abordagens inviabilizam uma gestação concomitante por riscos à mãe e ao desenvolvimento fetal.

A grande dúvida era quando seria seguro pausar o tratamento hormonal para as mulheres engravidarem, e se esta pausa é segura e não acarreta riscos aumentados de recorrência da doença. O estudo POSITIVE (o nome diz por si só) foi o mais importante apresentado na conferência por responder a uma pergunta extremamente crítica e com impacto enorme na vida das pacientes.

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Demonstrou-se que, após três anos, a pausa no tratamento hormonal foi segura do ponto de vista oncológico e cerca de 75% das pacientes que desejavam gestação conseguiram engravidar durante o período de acompanhamento. A incidência de recorrência a distância foi a mesma que o grupo controle e que os dados históricos – menos de 10%.

O estudo responde, de forma clara, a uma dúvida que até então os médicos não tínhamos resposta e que gerava angústia dos dois lados da mesa do consultório. Agora, de forma mais positiva, conseguimos fazer um planejamento não só do tratamento oncológico da futura mamãe, mas também seu planejamento familiar.

* Pedro Exman é oncologista e coordenador do grupo de tumores de mama e ginecológicos do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo

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