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O total desinteresse por sexo: ele existe e tem de ser discutido

A assexualidade foi o assunto discutido em importante congresso realizado em São Paulo

Por Carmita Abdo
Atualizado em 3 jan 2020, 12h27 - Publicado em 2 jan 2020, 11h44

No início de dezembro de 2019, realizou-se em São Paulo o XV Congresso da Sociedade Latino-americana de Medicina Sexual. O curso que abriu esse evento versou sobre Assexualidade, ou seja, o desinteresse absoluto pela atividade sexual, acompanhado ou não pelo desapego às relações amorosas. Alguns acreditam ser essa a quarta orientação sexual, além da hetero, homo e bissexualidade.

Um dos meios mais eficazes à legitimação da assexualidade foi e ainda é a internet. A Asexual Visibility and Education Network (Aven), o maior veículo de informações sobre o assunto, constituiu-se no primeiro grupo virtual direcionado àqueles que não sentem falta do sexo. Fundada há pouco menos de duas décadas pelo ativista David Jay, defende os direitos dos assexuais, nos Estados Unidos.

Por outro lado, é surpreendente (no mau sentido) o quanto têm-se divulgado sobre “estratégias” e “dicas” para a obtenção de mais prazer sexual. “Cento e uma maneiras de se chegar ao orgasmo”, “método infalível para deixar seu(sua) parceiro(a) enlouquecido(a)”, “como apimentar uma relação” são alguns dos temas que anunciam palestras, livros, textos, workshops e vídeos destinados a salvar relacionamentos falidos ou mulheres na iminência de trocarem definitivamente o sexo pelo chocolate ou pela compra de mais uma roupa nova, toda a semana.

As sugestões, apesar de explícitas, são impraticáveis para as pessoas a quem se destinam. Isto é, recomendar a uma mulher totalmente desmotivada para o sexo, mas prestes a perder a sua parceria sexual, que compre um espelhinho, recolha-se nos seus aposentos, observe seus genitais e se masturbe é pregar no deserto.

Da mesma forma, sugerir a ela que vista um lingerie colado à sua silhueta, deixe os cabelos revoltos, se banhe de perfume, abuse do batom vermelho e “caia matando”, é uma “furada”, um convite à “propaganda enganosa”. A mulher vai se transformar na caricatura mal desenhada de uma femme fatale. Com certeza vai se decepcionar profundamente, ao perceber que a indumentária não modificou sua performance sexual e não fez do seu(sua) parceiro(a) um(a) latin lover dos anos 1980, com “pegada” arrebatadora.

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Também me arrepia a insistência com que se garante à mulher preocupada com o seu corpo, que – caso se transforme num objeto sexual (esculpido à perfeição, a custa de dieta drástica, muita academia e cirurgias mil) – vai conseguir múltiplos e inenarráveis orgasmos intravaginais.

Falando em arrepio, me lembrei das recomendações feitas às mulheres para que se massageiem à exaustão, no intuito de “sentirem” o corpo e prepará-lo para receber as carícias do(a) companheiro(a) de alcova. Corre-se o risco dessas mulheres passarem a exigir massagens intermináveis para as preliminares sexuais, o que torna a parceria inapetente.

Praticar sexo com vibradores é outro conselho recorrente à mulher sem libido. Nada contra esse recurso, desde que não se torne um substituto definitivo, o próprio genro ou a própria nora dos pais dessa mulher.

Sugere-se por aí, quando todas as recomendações acima falharam, que as pouco libidinosas (mas muito interessadas em erotização) se programem para um final de semana dos sonhos, retirando-se com os respectivos amados ou amadas a uma praia paradisíaca, onde terão oportunidade de se “desfrutarem” mutuamente, removerem o mofo e bronzearem os corpos, aquecidos por sol e sexo. De novo, é preciso cautela. A tal praia deve estar repleta de mulheres esculturais e sexualmente bem resolvidas, exibindo seu charme. Se a praia for deserta, não se corre esse risco, mas outro: “ajoelhou, tem que rezar!”, sem chance para a célebre desculpa da dor de cabeça ou da tensão pré-menstrual.

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Portanto, se o seu interesse por sexo está em baixa, seja assertiva. Antes de tudo, avalie o quanto se sente atraída pela sua parceria sexual. Se a atração existe, consulte-se sobre seu ritmo de vida, sua satisfação com o trabalho, o excesso de cansaço e/ou a preocupação e seu dia a dia, de modo geral. Tudo certo? Então responda para si se sente mágoa, vergonha, culpa ou raiva da pessoa com quem você “deve” fazer sexo. Também pondere se essa pessoa tem um desempenho sexual que agrada, não é rápida, lenta, falha ou esquisita… Nada disso? Investigue criteriosamente a sua saúde física e emocional. Como estão o humor, os hormônios, o nível da glicemia, do colesterol e o controle de alguma doença que por acaso você esteja cuidando. Você está de bem com seu corpo ou engordou muito, ficou flácida, ganhou estrias, emagreceu além do desejado e ficou com excesso de pele? Se toma medicamentos regularmente, eles inibem o seu desejo?

Caso não se enquadre em nenhuma das alternativas acima relacionadas e, mesmo assim, não sinta desejo sexual nem sofra de verdade por causa disso, você faz parte do universo de sete a oito milhões de saudáveis mulheres brasileiras que não gostam mesmo da coisa…

(./.)
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