A escalada drástica da malária na Terra Indígena Yanomami, no norte do Brasil, acende um alerta. Em 2023, foram registrados 25.895 casos, 64% a mais que no ano anterior, representando 20% dos casos em todo o país.
A situação se agrava com um aumento preocupante de 19% nos óbitos por malária em comparação com 2022. Esses números não são apenas estatísticas; eles refletem vidas impactadas e a pressão crescente sobre nosso sistema de saúde.
Além disso, destacam a imperativa necessidade de uma resposta coordenada e robusta para enfrentar essa doença que assola as comunidades indígenas e ameaça a saúde pública em larga escala.
A transmissão da malária ocorre, na maioria dos casos, através da picada das fêmeas dos mosquitos Anopheles, conhecidos popularmente como “mosquito-prego”, infectados por parasitas do gênero Plasmodium. No Brasil, as espécies Plasmodium vivax e Plasmodium falciparum são as mais comuns, cada uma exigindo tratamentos específicos.
Outras formas de transmissão, embora mais raras, incluem transfusões sanguíneas, uso compartilhado de seringas contaminadas, acidentes em laboratórios e passagem de mãe para filho durante a gravidez.
Os sintomas da malária podem variar desde febre alta, calafrios, dores de cabeça e musculares, com episódios que se repetem a cada dois ou três dias, até condições mais graves, que incluem alterações da consciência, convulsões, dificuldades respiratórias, alterações renais, entre outros, podendo levar à morte.
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O diagnóstico precoce, essencial para uma abordagem terapêutica eficaz, é feito principalmente pelo exame de gota espessa, que permite a visualização do Plasmodium no sangue.
O tratamento da malária envolve o uso de medicamentos antiparasitários, como cloroquina, primaquina e combinações baseadas em artesunato. A escolha do tratamento depende da espécie do parasita, da idade do paciente, da gravidade da doença e da presença de outras condições médicas associadas.
É importante destacar que esses medicamentos são disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A maioria dos casos pode ser manejada ambulatorialmente, mas os mais graves exigem internação e atenção rápida, reforçando a necessidade de acesso imediato e eficaz aos cuidados de saúde.
Apesar dos avanços na área da saúde, ainda não há uma vacina contra a malária no Brasil, tornando as medidas preventivas, como o uso de mosquiteiros impregnados com inseticida e a eliminação de criadouros de mosquitos, fundamentais para o controle da doença.
A crise na Terra Indígena Yanomami ressalta a importância de uma abordagem coordenada para combater o problema, que vai além das medidas de saúde pública e inclui o fortalecimento dos sistemas de saúde e a promoção do desenvolvimento sustentável na região.
A situação atual também reforça a importância da vigilância epidemiológica e da cooperação internacional na busca por soluções duradouras para eliminar a malária.
* Leonardo Weissmann é médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e professor da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) – Campus Guarujá