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O que podemos fazer para prevenir o câncer colorretal?

Entidades orientam, em campanha, as medidas para reduzir o risco da doença e os exames para flagrá-la antes que possa progredir

Por Kanthya Borges, Helio Silva, Hélio Moreira Júnior, Marcelo Averbach, Herbeth José Toledo Silva e Sergio Pessoa*
Atualizado em 9 Maio 2024, 11h17 - Publicado em 18 mar 2024, 08h45

O câncer colorretal ou câncer de intestino é um tumor maligno que acomete o intestino grosso (cólon) e o reto, que é a parte final do trato digestivo, imediatamente acima do canal anal. Segundo projeções do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Brasil enfrenta um aumento significativo na incidência da doença, com expectativa de registrar mais de 45 mil novos casos por ano entre 2023 e 2025.

Destes, cerca de 70% concentram-se nas regiões Sul e Sudeste do país. O próprio Inca revelou que em 2020 foram registrados 20.245 óbitos em decorrência do câncer colorretal. São estatísticas alarmantes e representam vidas e famílias impactadas por uma doença que poderia ser evitada. A prevenção é a melhor alternativa para combatermos essa ameaça crescente à saúde pública.

Por isso, a criação de um Programa Nacional de Prevenção e Rastreio do Câncer de Intestino tem se tornado primordial tanto para evitar a evolução da doença, quanto para diminuir os custos com tratamentos de casos avançados.

A boa notícia é que o câncer colorretal permite, de fato, a sua prevenção, já que a maioria dos tumores surge a partir de pequenas lesões ainda benignas (denominadas pólipos), que, se não removidas, podem crescer e evoluir para uma doença maligna. Programas eficientes de rastreamento do câncer de intestino podem, além de evitar a doença, detectar casos de câncer em estágios iniciais, os quais habitualmente não se manifestam com sinais ou sintomas importantes.

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O diagnóstico e tratamento de pessoas com doença precoce possibilitam alcançarmos até mais de 90% de chances de cura.

Até há pouco tempo, o câncer de intestino atingia predominantemente pessoas de faixa etária mais avançada. Entretanto, temos percebido que a doença pode se manifestar também em homens e mulheres mais jovens. Esse fenômeno é mais claramente observado em países desenvolvidos, onde a incidência do câncer é bastante elevada.

Não foi por acaso, portanto, que quase a totalidade das sociedades médicas americanas passaram a indicar o início da realização dos exames preventivos em pessoas a partir dos 45 anos, mesmo sem sintomas e em bom estado de saúde.

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Para a nossa realidade e de muitos outros países, onde a incidência do câncer colorretal, apesar de desenhar uma curva ascendente, ainda é menor do que a de países desenvolvidos, a adoção de políticas de rastreamento em pessoas a partir dos 45 anos permanece questionável, pelo alto custo envolvido em ampliar o público a ser rastreado sem ter, em contrapartida, uma taxa de detecção precoce alta o suficiente que justifique os custos financeiros e, especialmente, o ônus de expor a população a exames por vezes invasivos como a colonoscopia, que é seguro porém não isento de complicações.

Por isso, até o presente momento, o próprio Ministério da Saúde sugere que o rastreamento do câncer colorretal de pessoas sem nenhum sintoma deve iniciar-se a partir dos 50 anos de idade.

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As formas de rastrear pessoas sem sintomas englobam a já citada colonoscopia e o exame de pesquisa de sangue oculto nas fezes, que é mais barato e simples. Basta coletar, em seu próprio domicílio, uma amostra de fezes e encaminhar o material a um laboratório de análises clínicas juntamente com o pedido médico.

A positividade do teste indica a necessidade de uma investigação mais detalhada. A taxa de positividade de pacientes com doença nas fases mais precoces, quando habitualmente não há nenhum sintoma, é alta. Por isso, deve-se progredir na investigação por meio da colonoscopia.

Como já havíamos ressaltado, quanto mais precoce for o diagnóstico, menor será a necessidade de tratamentos mais agressivos e maiores são as chances de cura, assim como menor será o custo para o sistema público.

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A colonoscopia exige um preparo para limpeza total do intestino e deve ser realizada em ambiente hospitalar ou em clínica devidamente equipada. O exame permite a visualização de toda a superfície interna do intestino grosso e do segmento final do intestino delgado. Pode-se, durante o procedimento, observar alterações da mucosa, sendo a identificação de pólipos o fator de maior impacto na prevenção do câncer, considerando-se que a maioria dessas lesões benignas pode ser removida por via endoscópica.

Uma característica do câncer intestinal que dificulta o seu diagnóstico é que ele só apresenta sintomas em estágios mais avançados. Os principais sinais de alerta são: presença de sangue vivo ou escuro nas evacuações, misturado às fezes, com ou sem muco ou catarro; alteração do hábito intestinal (o paciente alterna entre episódios de diarreia e constipação intestinal); diarreias prolongadas (com duração de mais de 3 meses); sensação de urgência para evacuar; saída de pouco volume ou fezes mais afiladas; cólicas abdominais frequentes associadas a inchaço abdominal; anemia crônica; perda não intencional de peso; cansaço e desânimo. Pessoas que apresentem qualquer um desses sinais devem procurar, imediatamente, assistência médica.

É fundamental que a população conheça os riscos associados ao câncer intestinal e quais são as medidas preventivas disponíveis. Ressaltamos a importância de adotarmos hábitos saudáveis: prática regular de atividade física (pelo menos 30 minutos, todos os dias), consumo diário de pelo menos três porções de frutas e três porções de legumes e verduras, consumo preferencial de cereais integrais, ingestão diária de pelo menos 2 litros de água, redução do consumo de carnes vermelhas, dando preferência para o modo de cocção lenta, a baixa temperatura; evitar alimentos processados, como presunto, mortadela, bacon, salsicha e outros embutidos e defumados; manutenção de um peso adequado à altura e idade; evitar o tabagismo e o álcool. 

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Campanhas educacionais robustas, exames regulares e acesso facilitado aos cuidados médicos são nossas ferramentas mais poderosas na luta contra essa ameaça crescente à saúde pública nacional. A Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED) e a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) não poupam esforços para disseminar informação de qualidade junto à população, especialmente durante a campanha do Março Azul. 

E apoiam as iniciativas do Ministério da Saúde nessa esfera. O sofrimento que esse câncer provoca e a quantidade de vidas perdidas justificam o aumento do empenho governamental em mudar a recomendação, hoje com foco somente no diagnóstico precoce, para uma abordagem mais abrangente, com ações de prevenção e real acesso da população à informação qualificada e a exames para rastreamento e prevenção do câncer de intestino. É vital instituirmos um Programa Nacional de Prevenção e Rastreio do Câncer de Intestino.

* Kanthya Arreguy de Sena Borges é médica e membro titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia; Helio Antônio Silva é membro titular e diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Coloproctologia; Hélio Moreira Júnior é presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia; Marcelo Averbach é coordenador da Campanha Nacional Março Azul e presidente da ONG Zoé; Herbeth José Toledo Silva é presidente da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva; Sergio Pessoa é presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia

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