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O que é preciso para melhorar o diagnóstico psiquiátrico? A busca pelo “Ponto Final”

Uma bola de tênis em câmera lenta cruza uma rede de um lado para outro, até bater na rede e a imagem ficar congelada. Enquanto isso uma voz anuncia: “Existem momentos em um jogo quando a bola bate no alto da rede e com um pouco de sorte, ela cai do outro lado…e você ganha. […]

Por José Alexandre Crippa
Atualizado em 30 jul 2020, 21h23 - Publicado em 8 nov 2016, 12h00
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    Uma bola de tênis em câmera lenta cruza uma rede de um lado para outro, até bater na rede e a imagem ficar congelada. Enquanto isso uma voz anuncia: “Existem momentos em um jogo quando a bola bate no alto da rede e com um pouco de sorte, ela cai do outro lado…e você ganha. Ou talvez não…e você perde”.

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    Assim é o início do brilhante filme Match Point – O Ponto Final (Estados Unidos, 2005) do diretor americano Woody Allen.

    Diferentemente do jogo de tênis, o diagnóstico psiquiátrico não tem uma rede que demarque os lados, ou seja, que determine o limite entre o normal e o anormal. Isso porque os transtornos mentais se manifestam por meio da psicopatologia, um conjunto de fenômenos complexos, envolvendo queixas subjetivas, em geral comunicadas verbalmente e que demandam minuciosa observação pelo clínico. Os sintomas são os relatos das experiências do paciente, como sentir-se triste ou ansioso; por outro lado, os sinais são os comportamentos observáveis, como chorar ou demonstrar apatia. Assim, pode-se dizer que essa dificuldade de quantificação dos fenômenos psíquicos inibiu durante um bom tempo a pesquisa em psiquiatria, além de colaborar para que muitos não a considerassem uma ciência e favorecer o uso de abordagens teóricas puras. Por isso, a psiquiatria na maior parte das vezes esteve em desvantagem em relação à maioria das outras áreas médicas, pois as manifestações dos transtornos psiquiátricos não podem ser medidas por meio de parâmetros biológicos ou fisiológicos, como um exame anátomo-patológico ou a temperatura corporal.

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    Dessa forma, apesar de todos os avanços científicos das últimas décadas, o diagnóstico psiquiátrico ainda apresenta algumas dificuldades e limitações. Algumas condições psiquiátricas chegam a apresentar até 70% de comorbidades –, ou seja, é como se a “quadra de tênis” tivesse uma ou mais “redes”, às vezes com intersecções entre elas. Entretanto, isso não significa que os diagnósticos psiquiátricos detectados por profissionais capacitados não receberão tratamentos eficazes, mas existe uma grande preocupação de que possa ocorrer uma “medicalização” do comportamento humano normal que poderia contribuir para aumentar o estigma social.

    Outro problema diz respeito ao diagnóstico categórico ou dimensional. Algumas condições como a ansiedade social – o medo de falar em público, – por exemplo, podem ser consideradas como parte da natureza humana no qual os sintomas são apresentados dentro de um continuum de um espectro. Encontrar o limiar em que o grau de sofrimento e prejuízo mereçam um tratamento, na maioria das vezes não é tarefa fácil. Desse modo, dependendo de onde a “rede” (às vezes as “linhas”) for colocada, o paciente pode ser medicado inadequadamente, ou no caso contrário, ficar sofrendo com grande prejuízo na sua qualidade de vida.

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    Contudo, apesar de todos esses e outras desafios, é sempre necessário destacar que o diagnóstico dos transtornos mentais é crucial na sociedade moderna, por vários motivos. Primeiramente, na busca do aprimoramento da observação psiquiátrica para torná-la mais objetiva e menos intuitiva. Em segundo lugar, o diagnóstico é essencial para determinar se (e dependendo, qual) intervenção deverá ser implementada, seja ela medicamentosa ou psicoterápica (ou ambas) e permitir que o tratamento seja baseado em evidências comprovadas. Igualmente, a epidemiologia e a pesquisa dos tratamentos dos distúrbios mentais só foi possível por meio de uma linguagem comum, de modo que os fenômenos observados puderam ser quantificáveis e os achados comparados em estudos com diferentes amostragens. Isso permitiu observar as altas taxas de portadores, sendo que as políticas preventivas de saúde mental puderam ser implementadas em prol dos pacientes. Finalmente, receber um diagnóstico pode trazer alívio ao paciente por reassegurar que os seus sinais e sintomas são algo conhecido.

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    Consequentemente, pode-se dizer que o diagnóstico é uma ferramenta fundamental para comunicação com o paciente e para que este receba a melhor ajuda disponível. Com o avanço das neurociências, espera-se que no futuro as classificações possam ser validados por marcadores biológicos, como exames de neuroimagem, genéticos ou outras assinaturas biológicas que apresentem alta sensibilidade e especificidade e que se ampliem a confiabilidade e validade. Ou seja, embora a bola ainda esteja quicando no topo da “rede” para alguns diagnósticos, acreditamos que no futuro próximo chegaremos ao “match point”.

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