O impacto da primavera na fertilidade
Com maior luminosidade e equilíbrio, comprovadamente é o período mais fértil para alguns mamíferos
Primavera, “a estação dos risos” de Casimiro de Abreu, imortalizada nas palavras de Fernando Pessoa “quando vier a primavera, se eu já tiver morto, as flores florirão da mesma maneira. E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada”, desperta sensações e significados.
O fluxo das estações afeta a vida no campo, o nosso ânimo e as mudanças no tempo. A presença multicolorida das flores nos permite vivenciar a alegria da primavera. Mas, muito mais que a beleza das flores, é época de vida nova. Com maior luminosidade e equilíbrio, comprovadamente é o período mais fértil para alguns mamíferos. Nesses tempos em que flor, perfume e luz nos renovam os sentidos de visão, olfato e tato, a intensidade da luz associa-se também a mudanças nas atividades endócrinas e reprodutivas.
Diferentes teorias emergiram para explicar esse fenômeno e o estudo do fotoperiodismo revela-se importante ferramenta para reprodução humana, porque foi demonstrado por pesquisadores que nós, humanos, somos sensíveis às variações sazonais no comprimento do dia em uma ampla variedade de processos comportamentais e fisiológicos. O fotoperiodismo, é um processo pelo qual os organismos usam a retina para medir o comprimento do dia. Essas informações são traduzidas por informações neuroendócrinas na secreção de melatonina na glândula pineal (hipófise- onde são produzidos os hormônios responsáveis pelo funcionamento dos órgãos reprodutivos). Gatilhos da melatonina são moduladores em cascata dos hormônios reprodutivos, hormônios liberadores da gonadotrofina (GnRH), hormônios luteinizantes(LH) e hormônios folículos estimulantes (FSH)- fundamentais no processo reprodutivo.
O fenômeno na reprodução assistida
A reprodução assistida é um bom modelo para investigar a relação entre as estações do ano e a capacidade de desenvolvimento embrionário porque muitas das variáveis, como taxas de fecundação, de desenvolvimento embrionário, de implantação e gestação podem ser melhor avaliadas in vitro, ou seja, dentro do laboratório. Nosso grupo realizou um estudo randomizado e controlado, publicado na revista Gynecological Endocrinology, do Reino Unido, em 1932 pacientes que foram submetidos a fertilização in vitro (FIV) e agrupados de acordo com as estações do ano. Foram 435 ciclos de tratamentos realizados no inverno, 444 na primavera, 469 no verão e 584 no outono. Ficou registrado que a produção de estrógeno, marcador da atividade dos ovários, foi significativamente maior na primavera. Também, e , o mais importante, a taxa de fertilização dos óvulos e a taxa de formação dos embriões foi quase 50% maior na primavera que nas outras estações do ano.
Nossos achados sugeriram um aumento da fertilidade nos dias mais luminosos da primavera, levando a produção de gametas de melhor qualidade. Bom momento para seguir a natureza e seu constante renovar.
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Paulo Hoff, oncologista
Paulo Zogaib, medico do esporte
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil, cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista
Sergio Simon, oncologista