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Longe do País das Maravilhas: o reflexo da ansiedade generalizada

Apesar de ser uma doença comum, o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) não é tão diagnosticado como deveria

Por José Alexandre Crippa
20 set 2018, 15h07
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  • Ansiedade: comportamentos naturais estão sendo diagnosticados como transtornos mentais, diz pesquisador americano
    O diagnóstico e tratamento das comorbidades é essencial na busca pela remissão do TAG. (Thinkstock/VEJA/VEJA)

    ‒ “O que aconteceu?”, quis saber Alice, assim que teve uma chance de se fazer ouvir. “Furou o dedo?”

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    ‒ “Não ainda,” a Rainha disse, “mas vou furar logo, no futuro…aonde estou vivendo agora…ai, ai, ai!”

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    Este bizarro diálogo ocorre entre Alice e a Rainha Branca no jogo de xadrez em um tabuleiro com os personagens em tamanho real, na obra-prima de Lewis Carrol (Charles Lutwidge Dodgson, 1832-1898) Através do Espelho e o que Alice Encontrou por Lá (1871 – Capítulo 5, Lã e Água), uma sequência brilhante de As Aventuras de Alice No País das Maravilhas (1865) do mesmo celebrado autor.

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    Assim, de modo interessante, no livro a Rainha Branca apresenta uma característica essencial no Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): a presença de humor ansioso com preocupação e expectativa apreensiva de possíveis eventos negativos futuros. De fato, a pessoa com TAG fica a maior parte do tempo aprisionada a possíveis acontecimentos “trágicos” de eventos comuns relacionados ao trabalho, estudo e situações cotidianas. Essas preocupações são generalizadas, excessivas e de difícil controle, envolvendo temas que habitualmente não perturbam a maioria das pessoas.

    No imaginário popular, enquanto o paciente com uma crise de pânico reflete o extremo da ansiedade, o paciente com TAG representa o típico e inconfundível sujeito “estressado”. De fato, ele vive em um mundo de imaginação com uma percepção negativa que nunca acaba para as mais diversas situações cotidianas. Essas preocupações são acompanhadas de sintomas físicos relacionados à hiperatividade autonômica, tensão muscular e dificuldade para relaxar. Entre esses sintomas são comuns fadiga, taquicardia, sudorese, perturbações de sono, dores musculares e sensação de estar com os “nervos à flor da pele”.

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    A ilustração original no livro de Alice, realizada por Sir John Tenniel (1820-1914) consegue captar toda a angústia e sofrimento da ansiosa Rainha Branca: o olhar vago e preocupado para baixo, a boca tensa, o corpo curvado para frente e com os braços tensionados junto ao corpo.

    Dificuldade do diagnóstico

    Apesar de todo sofrimento e prejuízo que acarreta, lamentavelmente o TAG ainda é um dos transtornos psiquiátricos menos diagnosticados. Dificilmente esses pacientes buscam diretamente um profissional de saúde mental, preferindo o médico generalista ou de outras especialidades. Isto ocorre pois normalmente as queixas principais são predominantemente de sintomas físicos genéricos e que não caracterizam uma enfermidade bem específica.

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    O TAG é um transtorno comum, com uma prevalência ao longo da vida de aproximadamente 4% a 6% da população nos principais estudos epidemiológicos em diferentes países, com predomínio nas mulheres e elevada taxa de comorbidade com outras condições psiquiátricas, como a depressão. O diagnóstico e tratamento das comorbidades é essencial na busca pela remissão do TAG.

    Existe uma opinião generalizada difundida pela mídia de que “cada ano mais e mais pessoas estão sofrendo de ansiedade”, de modo geral, e do TAG em particular. De fato, até um terço da humanidade sofre de um transtorno de ansiedade. Porém, é difícil encontrar evidências confiáveis de que nos últimos anos e décadas ocorreram mudanças significativas nas taxas de prevalências dos transtornos de ansiedade, especialmente pela dificuldade de reproduzir grandes estudos epidemiológicos ao longo dos anos, com diversas variáveis confundidoras, incluindo os próprios critérios diagnósticos.

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    Embora a urbanidade e estressores sociais sejam comumente atribuídos a ampliação na frequência deste transtorno, atualmente a melhor expectativa de vida, melhores recursos terapêuticos e maior acesso a tratamentos, ampliaram como nunca a qualidade de vida da humanidade. Para o TAG, fatores hereditários parecem ser responsáveis por 30% a 50% do desenvolvimento do transtorno. Por outro lado, paradoxalmente, atualmente mais pessoas reconhecem o diagnóstico e buscam tratamento, graças a maior divulgação e ao menor estigma em relação aos transtornos psiquiátricos, o que pode ser a razão para a impressão geral de que estes transtornos estão mais frequentes.

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    Em relação ao tratamento, uma vez que o TAG apresenta componentes cognitivos/psicológicos/ambientais (preocupações, pensamentos negativos) e autonômicos (sudorese, taquicardia, tensão muscular), a combinação da abordagem psicoterápica com a farmacoterapia (benzodiazepínicos no curto prazo e antidepressivos no médio/longo prazo) são prioritários na busca da melhora e remissão. Nesse sentido, os conselhos de Alice para a Rainha, de algum modo, talvez possam ajudar aos pacientes com TAG:

    ‒ “Não viva às avessas…não acredite nas ‘seis coisas impossíveis antes do café-da-manhã’…. pois não podemos lembrar das coisas ANTES que elas aconteçam!”. 

     

    José Alexandre Crippa

     

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