Desde o início da pandemia os especialistas ressaltam os riscos de complicações potencialmente maiores quando pessoas com doenças pré-existentes são infectadas pelo novo coronavírus. Alguns estudos chegaram a indicar que, entre os hospitalizados, cerca de 50% tinham patologias crônicas sendo que 40% destas eram cardiovasculares (DCVs).
A explicação é simples: pacientes com DCVs apresentam deficiência em seus sistemas imunológicos, além de um estado inflamatório crônico latente, o que pode agravar a evolução de processos infecciosos, fazendo com que o organismo responda à agressão viral sem a mesma eficiência, na comparação com um organismo saudável. Dessa forma, portadores de insuficiência cardíaca, hipertensão, diabetes ou aqueles que tenham sofrido infarto ou cirurgia cardiovascular são considerados, desde o início da crise sanitária da COVID-19, como o grupo com maior propensão para desenvolver as formas mais agudas da doença.
Para se ter uma ideia da gravidade, cardiopatas acometidos pela COVID-19 têm 10,5% mais chances de morte por insuficiência cardíaca na progressão da infecção, enquanto que para os demais a incidência é de 2,3%. E aqui ganha força um outro problema: os sintomas de um infarto agudo do miocárdio podem ser mascarados pelos sintomas provocados pela ação do coronavírus. Por isso, a atenção aos que já fazem tratamento para doenças cardíacas precisa ser redobrado: mesmo contaminados, estes indivíduos devem manter os medicamentos de uso contínuo e a atenção à sintomatologia.
O tabagismo é outra preocupação quando fazemos a triangulação coração e COVID-19. É fato que quando falamos em fumantes, o primeiro órgão que relacionamos com o mau hábito é o pulmão. Mas os prejuízos do tabaco também afetam o bom funcionamento do coração, sendo um dos fatores de risco mais importantes para o desenvolvimento de DCVs (duas a quatro vezes mais probabilidade do que os não fumantes).
Obesidade, coração e coronavírus é outra equação de resultado perigoso. A gordura em torno dos órgãos dentro da cavidade abdominal aumenta a possibilidade de entupimento das artérias, dificultando o desempenho adequado do músculo cardíaco. Ao somarmos este fato à presença de infecção pelo coronavírus em um paciente obeso, teremos uma amplificação deste processo promovida pela exacerbação inflamatória observada nas formas graves da COVID-19.
Sequelas
Com cerca de um ano e meio de pandemia, porém, outro fenômeno tem sido observado por médicos e cientistas: o comprometimento cardíaco de pessoas sem nenhum histórico de DCV depois de contraírem o coronavírus. Dados apontam que a prevalência de lesão miocárdica nos infectados variaram entre 7% e 36%.
As lesões ocorrem tanto pela ação direta do coronavírus no músculo cardíaco como pela elevação de substâncias inflamatórias no organismo. Dessa forma, dores torácicas ou queda de pressão arterial, durante o quadro de COVID, podem ser sinais suspeitos de insuficiência cardíaca mesmo naqueles sem histórico de problemas cardiológicos.
As sequelas cardíacas não são prerrogativas apenas dos que sofreram com sintomas mais significativos da infecção. Mesmo quem passou pela COVID-19 assintomaticamente ou sem grandes desconfortos tem chance de carregar alguma avaria. Portanto, é recomendável que, antes de retomar as atividades físicas, por exemplo, pessoas que venceram a infecção procurem os cardiologistas para fazer exames investigativos e saber se órgãos como o coração foram lesados.
E infelizmente as más notícias não param por aí: há relatos que o pequeno grande vilão desta história induz a formação de anticorpos antifosfolípides, substâncias que, potencialmente, levam a um aumento no risco de trombose mesmo naqueles sem propensão. Também já existe a hipótese de a COVID-19 ter a capacidade de provocar diabetes em indivíduos saudáveis. Como se vê, a lista de sequelas, tanto cardíacas como de outros sistemas, tende ser mais longa do que gostaríamos de divulgar.
O fato é que estamos apenas no início das investigações sobre as devastações que o coronavírus pode ocasionar. Parece um filme de terror daqueles que a gente não vê a hora de acabar porque vai cansando de levar sustos. Por isso nunca é demais lembrar: cuidem-se. Não contrair a doença é a única maneira comprovadamente eficaz de evitar os danos.
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