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Covid-19: o tratamento do câncer em tempos de pandemia

Estudo: não foram encontrados efeitos negativos significativos na mortalidade pela infecção em doentes durante a quimioterapia e outros tratamentos

Por Antônio Frasson
Atualizado em 18 jun 2020, 13h12 - Publicado em 18 jun 2020, 12h46
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  • Os tempos atuais têm sido desafiadores para pacientes com câncer e para aqueles que buscam um diagnóstico da doença. Desde o início da pandemia, segundo estimativas das Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica, mais de 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer. Já Sociedade Brasileira de Mastologia alerta para a queda de atendimentos em hospitais públicos do país das pacientes em tratamento da neoplasia mamária. Segundo levantamento realizado em centros hospitalares que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas principais capitais, a queda nos atendimentos de mulheres em tratamento, nos meses de março e abril esteve, em média, 75% abaixo, em comparação ao mesmo período do ano passado.

    A pandemia de Covid-19 e a ausência de informações precisas sobre a propagação e ação do vírus levaram a um cenário de cancelamentos de procedimentos considerados não urgentes e à recusa de pacientes com outras doenças ou sintomas em procurar clínicas e hospitais por medo de contraírem o novo coronavírus.

    Não se sabe ainda quando será atingido o pico de contaminação no país e ainda persistem dúvidas sobre o tempo de duração da pandemia, a expectativa é de que em três a quatro meses haja o declínio de casos. Porém, esperar todo esse tempo pode implicar um risco alto para os pacientes oncológicos. A realização da mamografia de rastreamento é um fator preocupante, já que o exame está suspenso em muitas regiões e as unidades básicas não estão fazendo encaminhamento para os hospitais. A interrupção deste serviço neste período significa que teremos um atraso em diagnósticos com possível aumento do número de tumores em estágio avançado.

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    Neste sentido, médicos europeus publicaram um artigo que alerta para o “efeito distração”, segundo o qual a gravidade da Covid-19 atrai a atenção, levando ao esquecimento da importância de se manter o tratamento contra o câncer. Assim, atuando numa guerra com dois “fronts”, o mastologista/oncologista não podem deixar de combater o câncer neste momento. Adicionalmente, além do risco do diagnóstico de tumores em estágio mais avançado, pode haver uma segunda consequência da suspensão de atendimentos e tratamentos, o impacto na capacidade de atendimento. Clínicas e hospitais poderão ter dificuldades em lidar com o acúmulo de demanda após a pandemia. Dessa forma, o entendimento dos profissionais de saúde e especialistas em câncer é de que se deve voltar à normalidade o quanto antes, dentro do possível.

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    Para viabilizar a retomada dos atendimentos médicos, cirurgias e outros tratamentos, a Sociedade Brasileira de Mastologia elaborou um documento em que faz uma série de recomendações aos mastologistas e hospitais para que separem as áreas de atendimento para pacientes com suspeita de Covid-19 dos demais e, assim, garantir a segurança dos procedimentos quando necessário.
    Estudo conclui que não há risco maior de morte para pacientes em quimioterapia

    Uma notícia bastante positiva foi anunciada em um estudo publicado na revista científica The Lancet em 28 de maio de 2020. A equipe do Projeto de Monitoramento de Coronavírus e Câncer do Reino Unido (UKCCMP), em relação à mortalidade por Covid-19 em pacientes portadoras de câncer durante a quimioterapia ou outros tratamentos antitumorais, afirma que não foram encontrados efeitos negativos significativos na mortalidade por doença Covid-19 em pacientes oncológicos que haviam se submetido recentemente à tratamento.

    O estudo publicado foi realizado com 800 pacientes e observou que o risco de morte associou-se apenas à idade avançada e presença de outras comorbidades, como hipertensão e doenças cardiovasculares.

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    Antes, suspeitava-se que indivíduos com câncer, particularmente aqueles que estão recebendo tratamentos quimioterápicos, possuíam um risco aumentado de morte por Covid-19, muito embora não houvesse estudos e análises representativos nesse sentido. Assim, o estudo da UKCCMP traz tranquilidade para os profissionais da oncologia e pacientes para que possam continuar realizando procedimentos e tratamentos durante este período de crise na saúde, evitando assim desdobramentos ainda mais dramáticos, que extrapolem os já tão penosos efeitos dessa pandemia. É necessário e urgente adaptar os serviços de saúde para que sejam retomados os atendimentos suspensos.

    Doutor Antonio Frasson
    Doutor Antonio Frasson (Ricardo Matsukawa/VEJA.com)
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