Com as temperaturas aumentando no hemisfério sul com a chegada do verão, o uso de filtros solares pela população geral também cresce. Na realidade, isso é mais que necessário: estima-se que, no Brasil, 33% de todos os diagnósticos de câncer são de câncer de pele e o país apresenta, em média, 185 mil casos novos por ano. Desses, 117 mil são do tipo carcinomas baso ou espinocelulares e, aproximadamente 9 mil, de melanoma, o qual possui agressividade e letalidade altas.
No entanto, não é incomum a mídia leiga apresentar dados que confundem a cabeça dos usuários de filtros solares no tocante à segurança de uso desses produtos. Recentemente, uma empresa americana causou alvoroço mundial ao publicar que análises feitas em várias marcas diferentes de filtros solares e produtos pós sol apresentavam níveis elevados de benzeno, algumas até 3 vezes maiores que o limite máximo autorizado pelo FDA, Food and Drug Administration, a agência regulatório norte-americana. O benzeno é um agente carcinogênico, intimamente relacionado com o surgimento de cânceres hematológicos.
No entanto, recente estudo publicado no Journal of the American Academy of Dermatology analisou dados e sangue de pacientes com mais de vinte anos, entre 2003 a 2006 e 2009 a 2018, da base de dados da National Health and Nutrition Examination Survey. Nele, 10.861 pacientes tiveram os níveis de benzeno pesquisados nas amostras sanguíneas. Os resultados desse estudo colocam uma pá de cal sobre o risco de níveis elevados de benzeno nos usuários de filtro solar.
De acordo com os achados, pessoas que usavam qualquer quantidade de filtro solar tinham menores concentrações sanguíneas de benzeno comparado as que nunca usavam filtro solar. Inclusive, o risco de terem uma potencial alta concentração de benzeno no sangue era menor do que a apresentada pelos não usuários. Trocando em miúdos, é como dizer que não usar filtro solar é o fator de risco para altas concentrações de benzeno no corpo. O estudo conclui que outros fatores, que não o uso de filtro solar, como poluentes emitidos da queima da gasolina, fumaça de cigarro de má qualidade, produtos químicos e algumas atividades profissionais sejam realmente os causadores desse aumento de benzeno no sangue.
Os autores do estudo recomendam que investigar outras causas de aumento de concentração de benzeno sejam mais importantes, do ponto de vista de saúde pública, do que atribuir essa situação puramente ao uso de filtros solares.
Certamente, um achado clínico desses é mais reconfortante do que ventilar resultados de uma análise química simples na mídia, trazendo um estrago sem precedentes em todo o programa de educação da população global sobre os benefícios do uso diários de filtros solares e os malefícios (risco aumentado de câncer de pele) nos que não o fazem.