Sinais de crise de crédito obrigam Lula a uma ação rápida
Tendência é que Lula amplifique as críticas ao BC, como se fosse único responsável. O problema é a realidade
Há escassez de crédito na praça. O dinheiro disponível está muito mais caro que seis meses atrás.
Grandes empresas, com mais de 100 mil funcionários e valor de mercado acima de R$ 15 bilhões, têm absorvido financiamentos a taxas “preferenciais” de mais de oito pontos acima da inflação (IPCA + 8,5%).
Para médios e pequenos empreendimentos, esse custo é miragem. Com o caixa rarefeito, topam o dobro ou mais no giro cotidiano.
Multiplicam-se os indícios de deterioração. Na terça-feira (7), um dos maiores fundos privados de investimentos do país informou aos clientes ter detectado “sinais” de uma crise de crédito.
O governo vai precisar demonstrar extrema habilidade, comentaram analistas do Verde Asset em carta aos seus investidores: “O enfrentamento [da crise de crédito] requer boas políticas públicas e não bravatas. Não por acaso os prêmios de risco dos ativos brasileiros seguem bastante altos”.
Nas circunstâncias, a tendência é que Lula amplifique as críticas que tem feito ao Banco Central, como se fosse único responsável pela crise.
É o modo que encontrou para ganhar tempo, enquanto não consegue arbitrar o rumo da política econômica submetido a um veemente (e inconcluso) debate no circuito Fazenda-BNDES-Partido dos Trabalhadores.
O problema é a realidade: sinais de crise aumentam, rapidamente, condicionando o planejamento das empresas para o segundo semestre. Elas trabalham, cada vez mais, para pagar despesas financeiras.
Para muitas, 2023 já acabou. E as perspectivas para 2024 podem piorar, se o impasse político sobre a condução da economia não for resolvido logo. Os sinais de crise de crédito obrigam Lula a uma ação rápida, e coordenada no governo e no Congresso, se quiser resguardar o primeiro biênio do seu mandato.