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Relatório sobre eleição expõe fragilidades das chefias militares

Documento mostra necessidade de revisão da estrutura e comprova debilidades institucionais, como a do papel de militar como "moderador" na política

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 nov 2022, 14h41 - Publicado em 10 nov 2022, 09h00
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  • É singular o relatório divulgado ontem pelo ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, sobre o sistema eletrônico de votação.

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    Na essência, atesta a necessidade de mudanças fundamentais nas Forças Armadas.

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    Demonstra a premência na revisão da formação educacional, da estrutura e dos critérios de ascensão na carreira militar.

    Comprova, sobretudo, a permanência de fragilidades institucionais, abstraídas pelo poder civil desde a redemocratização, por atribuir à caserna o papel de “moderador” na política interna.

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    O ministro da Defesa apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral um relatório de 63 páginas (65% são de anexos) sobre as urnas eletrônica e os resultados eleitorais.

    O texto é quase um épico do negativismo: a palavra “não” é repetida 49 vezes em 22 primeiras páginas antes de uma afirmativa — a mesma de auditorias já realizadas por organismos independentes nacionais e estrangeiros: estão corretos os resultados da eleição anunciados pelo TSE.

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    O documento seria irrelevante, não fosse o contexto político em que foi produzido, o da tentativa de amálgama dos interesses das Forças Armadas, instituições de Estado, com os de um governo que se autodestruiu em desvarios extremistas.

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    A cronologia é reveladora. O Ministério da Defesa precisou de oito meses para montar a “Equipe das Forças Armadas de Fiscalização e Auditoria do Sistema Eletrônico de Votação”.

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    A Justiça Eleitoral divulgou a listagem das entidades na terça-feira 14 de dezembro do ano passado. A “equipe” da Defesa foi criada na segunda-feira 2 do último agosto e trabalhou até ontem.

    Nesse período, o ministério foi ocupado pelos generais aposentados Walter Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que o sucedeu no último 1º de abril.

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    Eles são representantes de uma turma de oficiais educada no ciclo da ditadura que viu no antipetismo a oportunidade para abrir os quartéis ao ativismo, a bordo de um projeto de poder.

    Neste novembro, completam-se oito anos de uma inédita permissão da hierarquia militar para o então deputado federal Jair Bolsonaro fazer um comício de candidato à Presidência da República durante a formatura de cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras. Ele repetiu o comício na Aman anualmente, até vencer a eleição presidencial.

    Bolsonaro ganhou em 2018 tendo como vice Hamilton Mourão, ex-comandante militar do Sul. Agora, perdeu com o candidato a vice Braga Netto, que chefiou o Estado-Maior do Exército até assumir a Casa Civil, em fevereiro de 2020.

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    Os militares nunca estiveram longe da política. Desde a derrubada da monarquia, em 1889, as Forças Armadas deram seis golpes (dois em 1891, outros em 1930, 1937, 1945 e 1964, sem contar as rebeliões ou quarteladas).

    Reivindicaram, sucessivamente, a posição de “fiadores dos poderes constitucionais”. E, no silêncio obsequioso do poder civil, estabeleceram-se no papel de responsáveis pela “lei e ordem” em cinco das sete constituições da República, a última escrita no epílogo de duas décadas de ditadura.

    Por ação ou omissão, parte dos chefes militares da última década ajudou Bolsonaro a construir um governo de incompetência na crise da pandemia, com mais 780 mil mortos, cujos reflexos ficaram evidentes na derrota eleitoral do mês passado.

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    Alguns se engajaram no ideário extremista para corrosão do regime democrático. Atravessaram os últimos 18 meses ajudando na semeadura de falsidades sobre o processo eletrônico de votação.

    Uma das peculiaridades do relatório sobre os resultados eleitorais é a esgrima com o clássico argumento da ignorância, um dos prediletos de Bolsonaro — do tipo, se ninguém foi acusado de corrupção, logo, não há corrupção no governo.

    A Defesa concluiu que estão corretos os resultados da eleição anunciados pelo TSE, mas, acrescentou, isso não significa que o sistema eletrônico de votação “está isento de um eventual código malicioso que possa alterar seu funcionamento”.

    Na vida real, a mensagem assinada pelo ministro Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira ao TSE equivale ao reconhecimento de que a Terra é redonda, como dizem por aí, porém, com uma ressalva sobre a possibilidade de dúvidas.

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