“O que o presidente [Vladimir] Putin disse explicitamente nos últimos dias é que se alguém interferir na Ucrânia receberá uma resposta que “nunca teve em sua história”. E colocou as forças nucleares da Rússia em alerta máximo. Então, está deixando bem claro que a arma nuclear está na mesa. Putin tentou alertar [Donald] Trump sobre isso, mas acho que Trump não percebeu o que estava dizendo. Em uma das últimas reuniões entre Putin e Trump, quando estive lá, Putin observou que: ‘Bem, você sabe, Donald, nós temos esses mísseis hipersônicos…’ E Trump disse: ‘Bem, nós vamos ter também.’ Putin estava dizendo: ‘Bem, sim, eventualmente você vai ter, mas nós já os temos”. Havia uma ameaça nessa troca. Putin estava nos alertando que, se chegasse a hora de pressionar em um ambiente de confronto, a opção nuclear estaria na mesa. A questão sobre Putin é que se ele tem um artefato, ele quer usá-lo. Por que ter se você não pode? Já usou arma nuclear em alguns aspectos. Agentes russos envenenaram [em 2006] Alexander Litvinenko com polônio radioativo e o transformaram em uma bomba suja humana, e o polônio se espalhou por toda Londres em todos os lugares que o pobre homem visitou. Ele morreu, teve uma morte horrível como resultado. Os russos já usaram um agente nervoso para armas [químicas], o Novichok. Eles o usaram, possivelmente, várias vezes, mas com certeza duas vezes. Uma vez [em 2006] em Salisbury, Inglaterra, onde [moravam] Sergei Skripal e sua filha Yulia (…) O agente nervoso contaminou a cidade de Salisbury, e toda outra pessoa que entrou em contato com ele ficou doente. O Novichok matou uma cidadã britânica, Dawn Sturgess, porque os assassinos o mantinham em um frasco de perfume que foi descartado em uma caixa de doação de caridade, onde Sturgess e seu parceiro o encontraram. Havia agente nervoso suficiente naquela garrafa para matar milhares de pessoas. A segunda vez [em 2020] foi em cuecas de Alexander Navalny. Então, se alguém pensa que Putin não usaria algo que ele tem, que é incomum e cruel, pense novamente. Toda vez que você pensa: ‘Não, ele não faria, certo?’ Bem, sim, faria. E ele quer que saibamos disso, é claro.”
(Fiona Hill, analista da equipe de inteligência dos ex-presidentes George W. Bush e Barack Obama e ex-diretora para Europa e Rússia do Conselho de Segurança Nacional no governo Donald Trump, em entrevista a Maura Reynolds, da revista Politico/EUA. Atualmente, ela dirige o programa de Política Externa do instituto Brookings, em Washington.)