No apagão, um curto-circuito do ministro das Minas e Energia
Sem certeza de nada, Alexandre Silveira empenhou-se em desvendar "o fenômeno" com ambiguidades sobre sabotagem e privatização
Tem razão o ministro das Minas e Energia: um apagão em 25 Estados e no Distrito Federal, como o desta terça-feira (15/8), é “fenômeno muito raro”, só passível de observação com a ocorrência de “eventos simultâneos”.
Fenomenal, também, foi a imprudência do ministro Alexandre Silveira, senador pelo PSD de Minas, nas especulações sobre a origem do evento, que causou intermitência e até interrupção no abastecimento de energia por várias horas em algumas cidades.
Silveira, primeiro, isentou o governo. Depois, o clima (“Vivemos um momento de abundância dos reservatórios”). Por fim, “a segurança” do sistema nacional de geração e de distribuição de energia.
Na sequência, o ministro sugeriu a possibilidade de um ato de terrorismo. Não citou fato, causa provável ou indício de ação intencionada de sabotagem nas usinas ou nas linhas de transmissão. Anunciou uma investigação policial, justificando-a pela “sensibilidade” do setor elétrico. “Não podemos transigir na segurança”, argumentou, emendando a ressalva: “Não há da nossa parte apontamento leviano de responsabilidade.”
Pode ter ocorrido, ou não, o fato é que o governo nada sabia, chamou a polícia, mas, lembrou Silveira, também não estava acusando.
O dia acabava, proliferavam incertezas e o ministro empenhou-se em desvendar “o fenômeno” com ambiguidades.
Alinhou mais uma, ecoando boatos divulgados em redes sociais governistas. “Não quero terceirizar a responsabilidade às empresas privadas, a responsabilidade é nossa, de dar respostas aos brasileiros e brasileiras”, acrescentou. “O que devemos fazer é nos robustecer [o sistema nacional de energia] cada vez mais, por isso minha crítica à privatização da Eletrobras.”
“Eu seria leviano”, continuou, “em apontar que há causa direta com relação à privatização da Eletrobras. O que não posso faltar é com a coerência, a minha posição sempre foi, e não vai deixar de ser, é que um setor estratégico como esse deve ter a mão firme do governo.”
O ministro mencionou a Eletrobras várias vezes na entrevista sobre o fenômeno, sem explicar o que essa empresa privatizada há mais de um ano teria a ver com o apagão.
O ministro das Minas e Energia provocou um curto-circuito na lógica ao insinuar afinidades políticas das inanimadas represas, usinas e cabos que compõem o sistema de energia. E o país foi dormir sem saber as causas reais da interrupção no abastecimento de eletricidade.