Leniência militar e política permitiu Bolsonaro subverter a festa nacional
Chefes das Forças Armadas aceitaram se enredar num truque de agitação e propaganda "patriótica" dos anos 30 do século passado
Jair Bolsonaro conseguiu subverter a celebração dos 200 anos da Independência. Transformou-a em comício pela reeleição.
Há chance de confusão nas manifestações de campanha previstas para hoje em Brasília, Rio e São Paulo. O risco é real, também, para a candidatura Bolsonaro: um eventual tumulto pode ter o efeito de um tiro no pé, comprometendo sua posição, hoje secundária, na disputa presidencial.
É notável como chefes das Forças Armadas aceitaram se enredar por Bolsonaro num truque de agitação e propaganda “patriótica” desenvolvido nos anos 30 do século passado: o uso de tropa e de armamento como cenário em atividades político-partidárias.
Chama a atenção, também, a leniência do Congresso sobre a apropriação e a conversão, na forma e no conteúdo, dos símbolos nacionais em propriedade política de usufruto particular — da bandeira ao bicentenário da Independência. A confusão entre o público e o privado corrói a legitimidade institucional.