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Informação e análise
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Com Bolsonaro, a direita saiu da vitória para o abismo

A fatia conservadora do eleitorado é significativa, mas Bolsonaro, débil nas pesquisas pelo desempenho no governo, foi incapaz até de unir a ultradireita

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 11 jan 2022, 08h00

Faltam 354 dias, ou 50 semanas, para acabar o mandato de Jair Bolsonaro. Quem quiser pode imaginar qual será seu rumo a partir do próximo 31 de dezembro, mas para compreender as condições em que chegou até aqui, é mais útil olhar pelo retrovisor dos últimos quatro anos. 

Em janeiro de 2018, Bolsonaro aglutinava a direita numa promessa de reorganização partidária e de perspectiva de poder. Disputava o segundo lugar nas pesquisas eleitorais com 20% da preferência. 

A esquerda, com Lula, liderava com 37%, mas todos sabiam que ele não poderia ser candidato. Estava impedido pela Lei da Ficha Limpa porque, seis meses antes, havia sido condenado pela segunda vez por corrupção. 

A eloquência do eleitorado naquele verão estava desenhada nas taxas de rejeição. O líder isolado era Michel Temer, que substituiu Dilma Rousseff, derrubada num impeachment por fraudes fiscais. Seis em cada dez eleitores repudiavam a ideia de reeleger Temer. 

Quatro em cada dez declaravam que não votariam em Lula “de jeito nenhum”, deixando-o virtualmente empatado com o ex-presidente Fernando Collor, seu algoz na disputa presidencial de 1989 e, dois anos depois, alvo de impeachment por corrupção. 

Bolsonaro, na época, aparecia num distante quarto lugar, rejeitado por um terço dos eleitores entrevistados pelo Datafolha. 

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Lá se foram três verões e um governo. 

A esquerda, com Lula, agora lidera (48%). E Bolsonaro se mantém distante (22%). 

O eleitorado continua no mesmo lugar. Quem mudou de posição foi Bolsonaro, que conseguiu dobrar a sua taxa de rejeição: passou de 29% para 60% em 48 meses. 

O repúdio a Lula declinou, mas não muito. Caiu de 40% para 34% em quatro anos. 

Quem perdeu mesmo foi a direita que, nesse período, assistiu ao esvanecimento das suas chances de aglutinação, de reorganização numa estrutura partidária e de realização de um governo capaz de renovar sua força nas urnas, sustentando-a como alternativa de poder. 

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O fiasco de uma administração emoldurada na nostalgia militarista, provado na inépcia da gestão na pandemia e agravado na estagnação da economia, com recorde de inflação, juros e desemprego, resultou numa desagregação muito mais intensa no mosaico de forças da direita do que se via no início da temporada eleitoral de 2018.

A fatia conservadora do eleitorado é significativa, indicam as pesquisas e atestam as urnas desde 1989. Bolsonaro atravessou três anos na presidência e, no entanto, foi incapaz até mesmo de unir e fidelizar de forma permanente a base eleitoral de ultradireita num partido que ele mesmo desenhou. 

O bolsonarismo não vingou nas eleições municipais de 2020, o projeto do Aliança Brasil se mostrou mero delírio de pandemia, e Bolsonaro acabou arrendando ao Centrão a sua estabilidade no Palácio do Planalto. 

Agora, passa o tempo se justificando: “Eu, pra conseguir disputar a eleição, tenho que ter um partido. É a mesma coisa do cara falar: ‘Ah, o Centrão’… Poxa, vocês votaram num cara que foi do Centrão. Eu fui do PP por muito tempo. Fui do PTB, fui do então PFL.. — lamentou-se, ontem, em entrevista à Jovem Pan News. 

A direita, no conjunto, perdeu a chance conquistada nas urnas em 2018 de fazer um governo competente no Brasil. Em quatro anos, foi da vitória ao abismo nas pesquisas. O “Custo Bolsonaro” de uma eventual derrota nas urnas neste ano tende a deixá-la ainda mais fragmentada, fora do mapa-múndi político por tempo indeterminado.

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