Bolsonaro e Lira fracassam na Petrobras e na crise do petróleo
Semana que vem completam um ano sem saber como reduzir o impacto da inflação dos derivados de petróleo no bolso do consumidor — ou eleitor
Jair Bolsonaro e o deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, se meteram num beco sem saída: não sabem o que fazer para conter os aumentos dos preços da gasolina, óleo diesel e do gás de cozinha.
No final do ano passado, criaram uma confusão com os governadores culpando-os pelo reajustes. Apresentaram a tributação estadual como vilã da inflação dos combustíveis. Os Estados reagiram e, de forma coordenada, congelaram o imposto (ICMS). Os aumentos continuaram, acelerados.
No início do ano, Bolsonaro e os líderes do Partido Progressistas, locomotiva do Centrão, passou a jogar a culpa na Petrobras, na tentativa de transferir para o caixa da empresa os custos bilionários da mitigação da diferença entre os preços domésticos e os internacionais dos derivados de petróleo.
A pressão aumentou no ritmo do avanço das tropas de Vladimir Putin na invasão da Ucrânia, com efeitos colaterais no mercado mundial de petróleo. Ganharam até uma enviesada solidariedade de um pedaço da oposição — nela, a voz mais destacada foi de Lula, líder nas pesquisas eleitorais.
Tropeçaram num obstáculo óbvio, que se recusavam a enxergar no caminho: pôr a mão no caixa da Petrobras hoje é, incomparavelmente, mais difícil do que na década passada. A roubalheira revelada nos inquéritos da Lava Jato levou à construção de barreiras jurídicas de proteção da empresa da manipulação. Saltar a muralha ainda é possível, mas o risco político aumentou. E, economicamente, ficou muito mais caro.
Mês passado resolveram derrubar o presidente da companhia. Escolheram um terceiro executivo-chefe em um ano, além de um novo presidente do Conselho de Administração.
Deu errado, os indicados renunciaram. O deputado Lira protestou: “Quer dizer, você tem que pegar um funcionário público para ser diretor da Petrobras? Ou pegar um arcebispo para ser diretor da Petrobras?”
Amanhã haverá uma assembleia de acionistas para decidir sobre novos substitutos com “perfil técnico”.
Bolsonaro deu aval a Lira para encaminhar um projeto de privatização da Petrobras, que poderá ser apresentado na Câmara antes da sagração da sua candidatura à reeleição, em junho, no Partido Liberal.
Lira planeja, também, mudar a Lei das Estatais. Quer “enquadrar” a Petrobras — “a quem serve? Não dá satisfação a ninguém, não produz riqueza, não produz desenvolvimento.” Já foi avisado de que pode tentar, mas são remotas as chances de aprovação no Senado.
Descontados os prejuízos à imagem da empresa, Bolsonaro e Lira fracassaram. Da interferência indevida restou o barulho. E só.
Semana que vem completam um ano dando voltas em torno do problema, que continua sem solução: como reduzir o impacto da inflação dos derivados de petróleo no bolso do consumidor — ou eleitor. Reflexos da crise na campanha de Bolsonaro já estão visíveis. E eles demonstram, literalmente, que estão sem rumo, não sabem o que fazer.
Na terça-feira 20 de abril do ano passado começou a vagar pelo Congresso uma proposta legislativa para criação de um fundo de estabilização dos preços domésticos da gasolina, diesel e do gás de cozinha. O petróleo custava 65 dólares por barril. Desde a guerra na Ucrânia flutua em torno de 100 dólares.
O governo mal prestou atenção no projeto. Atravessou o ano repetindo que os reajustes de preços da gasolina, diesel e gás de cozinha eram questão a ser resolvida “pelo mercado”.
Bolsonaro e Lira, com auxílio de Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil, passaram o tempo entretidos em outra coisa — a distribuição de verbas aos parlamentares aliados no orçamento paralelo.