Jair Bolsonaro é um candidato caro. Embora esteja estacionado há um ano nas pesquisas (no patamar de 30%), cada dia custa mais ao bolso dos eleitores.
Hoje, por exemplo, pode aumentar em R$ 60 bilhões, numa conta de padaria, se a Câmara aprovar uma redução tributária (do ICMS) para os combustíveis.
O plano do governo é repassar essa nova fatura ao caixa dos Estados e Municípios, que rejeitam.
Não importa o custo da reeleição, desde que a conta seja paga com o dinheiro dos outros, e, nesse caso, dos governadores e prefeitos — é o que dizem líderes governistas na Câmara.
Inflação é o inimigo comum na temporada eleitoral. Na Câmara são 513 deputados diretamente interessados, no Senado um terço.
Jair Bolsonaro, Arthur Lira, presidente da Câmara, e Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil, se mostram dispostos a “segurar” a alta de preços combinando a caneta do presidente com o painel de votação no Congresso e a primeira página do Diário Oficial.
Sabem que não dá certo, é longo o histórico de fracassos. Mas acham possível “conter” a alta dos combustíveis pelo menos até o segundo turno eleitoral, no final de outubro.
Supõem que isso seria suficiente para resgatar a candidatura de Bolsonaro da estagnação e diminuir a vantagem de Lula (média de 14 pontos percentuais), líder em todas as pesquisas. Depois da eleição, é outro jogo.
Bolsonaro se diz vítima da desorganização da economia durante a pandemia e, agora, pela inflação de energia e alimentos na poeira da guerra de Vladimir Putin na Ucrânia.
Não é caso único de governante infernizado por essa tempestade perfeita. O que faz a diferença são os erros de cada um.
Bolsonaro, por exemplo, só agora parece ter percebido um problema — o dos preços dos combustíveis — que chegou à sua mesa de trabalho no Planalto um ano atrás.
Em abril do ano passado, quando o petróleo custava 60 dólares o barril, o Senado começou a discutir a criação de um fundo de estabilização de preços dos combustíveis. O objetivo desses subsídios era atenuar o impacto do aumento dos preços dos derivados no bolso dos consumidores.
Estaria dentro do orçamento e seria financiado com recursos dos royalties e de uma taxa sobre exportações de petróleo bruto.
O governo comunicou seu desinteresse, com a justificativa de que o mercado resolveria. Preferiu manobrar na Câmara, com apoio de Lira, para pressionar a Petrobras e, ao mesmo tempo, jogar a culpa do custo dos combustíveis nos governadores. Eles reagiram, congelaram a cobrança de ICMS e, mesmo assim, os preços continuaram subindo.
Em fevereiro, quando o Congresso voltou das férias de verão, o petróleo já ultrapassava 90 dólares o barril. O Senado resolveu votar a criação do fundo. O governo impediu várias tentativas de votação.
Na noite de quarta-feira 23, o projeto do fundo foi levado à decisão no plenário. O Planalto mobilizou a bancada governista, que apelou por “um último” adiamento da votação. Conseguiu e a sessão tumultuada foi encerrada às 22 horas.
Duas horas depois, a Rússia invadiu a Ucrânia. O preço do petróleo disparou, chegou a 116 dólares por barril — 93% a mais do que custava em abril de 2021, quando começou a tramitar o projeto de criação do fundo de estabilização de preços dos combustíveis. Escalou até 127 dólares nos dias seguintes, e se mantém acima dos 100.
Desde então, as pesquisas refletem a rejeição do candidato Bolsonaro ancorada na avaliação negativa do eleitorado sobre o rumo “errado” do seu governo.
Sem bússola, e habituado a fazer política pelo tumulto, esgotou o cardápio de diversionismos — com ameaças veladas de golpismo, principalmente.
Agora, tenta um duplo movimento: mais uma demissão de presidente da Petrobras, com seis dos onze conselheiros da empresa, e uma ofensiva contra o caixa dos governadores e prefeitos atenuar o impacto do aumento dos preços do petróleo no bolso dos consumidores, até o fim do processo eleitoral.
Perdeu tempo, o custo eleitoral subiu e por mais sedutor que seja a ideia de um controle informal de preços, já se sabe o desfecho: não há o menor risco de dar certo.