As razões da agonia de Bolsonaro e da angústia de Lula
Bolsonaro enfrenta regressão significativa no eleitorado que o elegeu em 2018. O "fator Ciro" é, hoje, a principal condicionante do futuro eleitoral de Lula
Nunca antes na história desse país houve tanta pesquisa. Neste mês, a Justiça Eleitoral recebeu mais de cem registros de sondagens sobre a disputa presidencial.
Quantidade não significa necessariamente qualidade. A profusão, no entanto, está induzindo interpretações díspares das tendências eleitorais, baseadas nas variações (8 a 16 pontos porcentuais) sobre a diferença entre candidatos líderes nas intenções de voto.
Pesquisadores atribuem à diversidade e, também, a falta de esclarecimentos mais detalhados sobre as diferentes metodologias. Exemplificam com a definição de amostras a partir de extratos censitários do IBGE — o último Censo disponível é de 2010, uma dúzia de anos atrás. As divergências, no entanto, não eliminam o principal: Lula segue à frente de Jair Bolsonaro.
Aparentemente, não está funcionando a ofensiva de desqualificação do adversário, intensificada por Bolsonaro no rádio, na televisão e nas redes.
Da mesma a forma, Lula ainda não conseguiu resultados objetivos com a sua campanha pelo “voto útil” no primeiro turno, para desidratar as candidaturas de Ciro Gomes e de Simone Tebet. As pesquisas divulgadas até ontem não registraram o efeito esperado pelo ex-presidente.
Pode acontecer, caso se confirme a “onda Lula” que já motiva apreensão no comitê central de Bolsonaro instalado no Palácio do Planalto. Essa preocupação se baseia na expectativa contínua, captada nas sondagens, de vitória de Lula.
As pesquisas são convergentes, também, sobre os problemas acumulados pelo aspirante à reeleição. Bolsonaro é caso singular de presidente que, até aqui, usou e abusou das facilidades do cargo, da estrutura do serviço público e do orçamento federal, e ainda assim se vê ameaçado de derrota nas urnas.
Ele não está sendo derrotado apenas pelas mulheres e os mais pobres. O conjunto de sondagens informa que enfrenta uma regressão significativa no eleitorado que o elegeu em 2018.
Exemplo: no retrato divulgado ontem pela Quaest, Bolsonaro aparece com 38% dos votos na região Sudeste. Isso equivaleria a 43% dos votos válidos. Significa uma dezena de pontos a menos do que obteve quatro anos atrás.
A dez dias da votação, uma sucessão de más notícias semeia agonia na campanha governista. No círculo adversário, o calendário impõe angústia de natureza diversa — sobre a dimensão do adversário Ciro Gomes nas urnas. Hoje, o “fator Ciro” é a principal condicionante do futuro de Lula, na primeira ou na segunda rodada eleitoral.