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Informação e análise
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A IIª Guerra Mundial ainda não terminou em Cabo Frio

STF autoriza família processar a Alemanha pelo crime de guerra de submarino nazista, que há 78 anos afundou barco com dez pescadores no litoral fluminense

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 ago 2021, 17h48 - Publicado em 31 ago 2021, 09h30

A IIª Guerra Mundial ainda não terminou em Cabo Frio (RJ), cidade litorânea de 234 mil habitantes a 150 quilômetros do Rio.

Ontem, a família do pescador Deocleciano Pereira da Costa obteve permissão do Supremo Tribunal Federal para reivindicar da República Federal da Alemanha uma indenização por sua morte a bordo do barco “Changri-lá”, afundado em 1943 pelo submarino alemão U-199 num trecho da costa entre Cabo Frio e Arraial do Cabo.

É caso inédito. O Supremo retirou a imunidade da Alemanha. E submeteu-a à jurisdição do local onde foi praticado um crime de guerra, previsto em tratados internacionais, durante o regime nazista.

A decisão é aplicável em casos similares. Submarinos alemães atacaram 33 navios e barcos brasileiros — nem todos foram afundados— entre março de 1941 e agosto de 1943. Mataram 982 pessoas.

Cabo Frio era um paraíso praiano num mundo em guerra na noite de quinta-feira 22 julho, inverno de 1943. Tropas aliadas ganhavam impulso na Europa, com a invasão da Sicília, na Itália. A ofensiva de Hitler na União Soviética estancara diante da resistência russa na cidade de Kursk.

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Deocleciano e mais dez pescadores embarcaram no “Changri-lá”. Desapareceram no mar aberto. Ondas carregaram pedaços do barco até às praias de Cabo Frio.

Dez dias depois, na manhã de sábado 31 de julho, aviões brasileiros e americanos localizaram na região o submarino alemão U-199. Era sabido que uma dúzia deles, da flotilha U-boat, operava no Atlântico Sul à caça de navios mercantes.

Em ataque coordenado afundaram o U-199 sob o sol das 9h20m. Todos os doze tripulantes foram capturados no mar, entre eles, o comandante Hans Werner Kraus. Aos 28 anos, estava na primeira —e única — missão, iniciada no 13 de maio, quando deixou o porto de Kiel, norte da Alemanha. Preso, foi levado a Washington e confessou o bombardeio do pesqueiro.

Meio século depois, a persistência de um pesquisador, Elísio Gomes Filho, possibilitou que se conhecessem detalhes do ataque ao “Changri-lá”, a partir de relatórios militares dos Estados Unidos que reproduziram  depoimentos dos prisioneiros e o diário de bordo do submarino alemão.

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“U-199 estava patrulhando na superfície, à noite, quando observou uma sombra a bombordo” — registra a documentação. “Prisioneiros disseram que subsequentemente provou-se ser um veleiro ou uma embarcação com uma vela traseira. Kraus decidiu afundar a embarcação por canhoneio e disparou um número de tiros pelo seu [canhão de calibre] 37 mm até que o 105 mm pudesse ser guarnecido. Nenhum dos tiros do 37 mm achou o alvo. O 105 mm então disparou sete tiros. Os dois últimos acertaram, e afundaram [o barco]”.

Se passaram 58 anos até o reconhecimento do bombardeio ao “Changri-lá” pelo Tribunal Marítimo brasileiro. Aconteceu em setembro de 2001. E foram necessárias mais duas décadas até à autorização do Supremo Tribunal Federal para que a família de uma das vítimas, o pescador Deocleciano, possa reivindicar na Justiça uma indenização da República Federal da Alemanha por esse crime de guerra do regime nazista.

A decisão do Supremo abre um precedente doméstico para casos similares. Mas há contrapartida: o Brasil passa a ficar sujeito a tratamento recíproco em tribunais estrangeiros.

Em Cabo Frio, a IIª Guerra Mundial continua.

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