Back in the USSR, o mundo entre luz e trevas
Invasão da Ucrânia confirma divisão entre o mundo livre, democrático e o mundo dos regimes totalitários
A invasão – anunciada e covarde – das tropas de Putin na Ucrânia pode ser o marco de uma nova dialética mundial.
Apesar da insistência de muitos em seguir separando os países em blocos, por critérios ideológicos, entre socialistas e capitalistas (ou progressistas e liberais), o que vem se confirmando é a divisão clara entre o mundo livre, democrático e o mundo dos regimes totalitários, onde impera a escuridão. Tudo se resumiria à liberdade ou opressão; a luz ou trevas.
O capitalismo (de compadrio ou não) está vividamente presente em ambos os polos, enquanto o comunismo praticamente não sobreviveu, resumindo-se – em contagem regressiva – à Cuba e Coreia do Norte, e outros estados menos relevantes no xadrez geopolítico atual.
Merece ressalva a lembrança de que o grupo de países liderados pela antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (até 1991) e China, nunca conviveu com democracia e liberdade de imprensa. Enfim, todas as nações do bloco comunista, seja sob influência da China ou da URSS, eram invariavelmente ditaduras totalitárias.
Quanto à agressão russa à Ucrânia, não há argumento geopolítico que possa justificá-la. A defesa da soberania do estado ucraniano é insofismável e não pode ser relativizado sob nenhum ponto de vista. Qualquer posição em contrário seria a negação do consagrado princípio da autodeterminação dos povos.
Daí a razão de lamentarmos profundamente o desastrado posicionamento de Jair Bolsonaro, prestando “solidariedade à Rússia”, na já anedótica viagem à Moscou, além da sua relutância em condenar expressamente os ataques russos, depois de noticiados.
O Brasil, por conta da omissão de Bolsonaro, posiciona-se muito mal nessa nova dicotomia planetária, cerrando fileiras com países como China, Bielorrússia, Cuba, Venezuela, Nicarágua, Síria e Irã, todos comandados por líderes autocráticos.
Bom lembrar ao nosso presidente que o princípio da solução pacífica dos conflitos incorporou-se – por força de fatores históricos e estruturais – à identidade internacional brasileira, e por conta da própria Constituição de 1988, que abraça expressamente em seu texto a defesa da paz e a distensão como únicos desenlaces possíveis para as contendas internacionais.
Não é à toa que o Partido dos Trabalhadores, cujo candidato à presidência da República Luís Inácio Lula da Silva defende a regulação (controle) de meios de comunicação e internet, posicionou-se de forma escapista em relação à agressão russa na Ucrânia. Interessante ver Bolsonaro e Lula convergindo na defesa do autoritarismo de Putin.
I’m back in the U.S.S.R.
You don’t know how lucky you are, boy…