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Paul Verhoeven provoca mais do que entrega no profano ‘Benedetta’

Novo filme do holandês resgata caso de lesbianismo em convento da Itália renascentista

Por Isabela Boscov 15 jan 2022, 08h00

Nascida em 1590, filha única de um casal de posses, e internada em um convento da cidade toscana de Pescia desde os 9 anos, a freira Benedetta Carlini ocupa um lugar de certo destaque na crônica do catolicismo: seu romance com a noviça Bartolomea Crivelli foi um raro caso de lesbianismo entre religiosas a ser documentado — ricamente documentado, aliás, graças à curiosidade aguçada dos clérigos que, entre 1619 e 1623, inquiriram e investigaram a freira (que chegou a ser abadessa do mosteiro) para decidir se as suas visões místicas eram genuínas ou fruto de influência diabólica (o affair entre Benedetta e Bartolomea foi, claro, usado como peça de acusação). Encontradas por acaso em um arquivo, as transcrições do inquérito serviram de base a um interessantíssimo ensaio da historiadora Judith C. Brown. O qual, por sua vez, serve agora de base a Benedetta (Holanda/França/Bélgica, 2021), a nova e paradoxalmente inerte provocação do holandês Paul Verhoeven que já está em cartaz nos cinemas.

Stigmata: A Tragedy In Three Acts
A Arte de Paul Verhoeven

Verhoeven é o mais bem-disposto iconoclasta em atividade no cinema, sempre pronto a afrontar mais um tabu (em seu último grande filme, Elle, de 2016, Isabelle Huppert fazia um jogo sexual com seu estuprador) e a pisotear noções de bom gosto e propriedade. Na sua melhor forma, como em Elle, A Espiã ou Robocop, é capaz de verdadeiramente abalar aquelas convicções que se recebem e não se examinam. Às vezes, porém, suas táticas — choque, sátira, ridículo, ultraje — derivam para um fim em si mesmas. É o caso de Benedetta, que instiga e diverte com sua levada “Showgirls no convento” só até certo ponto — o ponto em que não apenas perde de vista a demanda erótica reprimida das visões luxuriantes da freira com Jesus e dos estigmas que, crê-se, ela infligia em si mesma, como deixa de equacionar essa sublimação com as questões tortuosas de fé. Quando Benedetta (Virginie Efira) se realiza carnalmente com Bartolomea (Daphne Patakia) e aprende a tirar proveito de suas manifestações místicas, o diretor a embriaga com o poder e o sexo e faz dela uma déspota, numa guinada abrupta — e de recorte misógino — que não presta favores à atuação dura da belga Efira. Verhoeven aspira à transgressão, mas é sintomático que o mais comentado em Benedetta seja seu truque mais barato — o do uso muito heterodoxo que a freira e a noviça fazem de uma pequena estátua da Virgem Maria.

Publicado em VEJA de 19 de janeiro de 2022, edição nº 2772

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A Arte de Paul Verhoeven
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