Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Isabela Boscov Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

O embriagante filme dinamarquês ‘Druk’, que concorre a dois Oscars

Quatro amigos de meia-idade combatem a estagnação pessoal com bebida e sentem-se transportados para um estado de juventude — com tudo que isso implica

Por Isabela Boscov Atualizado em 26 mar 2021, 19h53 - Publicado em 26 mar 2021, 06h00

Não beber no trabalho é uma norma implícita entre pessoas adultas e responsáveis. E, no entanto, em Druk — Mais Uma Rodada (Druk, Dinamarca/Suécia/Holanda, 2020), que em mais um baque da pandemia foi direto para aluguel em plataformas de streaming em vez dos cinemas (no Brasil, está disponível nas principais plataformas), Martin (Mads Mikkelsen), Tommy (Thomas Bo Larsen), Nikolaj (Magnus Millang) e Peter (Lars Ranthe) vêm desempenhando suas funções com muito mais brio desde que começaram a quebrar essa regra. Amigos de longa data e professores na mesma escola de Copenhague, na Dinamarca, eles decidiram testar uma teoria (que realmente existe, aliás) de que os seres humanos têm menos álcool no sangue que o ideal e o equilíbrio neuroquímico seria muito mais satisfatório se um teor de 0,05 mg fosse mantido. Com espírito de traquinagem e num estado de euforia que há tempo nenhum deles experimentava, os quatro contrabandeiam birita no copo de café ou na garrafa de água e, para dar à aventura um caráter científico, trancam-se a toda hora no banheiro para soprar em bafômetros e anotar o resultado. Das 8 da noite até a manhã seguinte, os drinques ficam proibidos, assim como nos fins de semana.

Filme ‘Druk’ concorre a dois Oscars

arte oscar

No caso de Martin, que Mikkelsen interpreta de forma arrebatadora, os benefícios são particularmente nítidos: os alunos que haviam pedido a demissão do professor apático agora adoram suas aulas vigorosas, sua extroversão e os ângulos inesperados pelos quais ele aborda a matéria. A crise generalizada em que ele vinha mergulhado recua e, no trabalho e em casa, o êxito é tão evidente que o quarteto logo se pergunta se ele não seria maior ainda com doses mais altas — uma ladeira escorregadia, claro.

+ Compre o livro Kursk: A Time To Die (English Edition)

Druk é um desses filmes extraordinários que transbordam vida própria, além inclusive do que seu talentosíssimo time poderia planejar. “Toda vez que eu tentava disciplinar e estruturar o filme, ele morria. Tive de aceitar que ele não queria ser domado”, disse a VEJA o cineasta Thomas Vinterberg (leia entrevista), que concorre ao Oscar em 25 de abril. Desde 2013, dois anos depois de ter trabalhado com Mikkelsen, Bo Larsen e Ranthe no avassalador A Caça (Millang veio de outro ótimo filme seu, A Comunidade), Vinterberg vinha moldando o projeto e vendo-o transformar-se na companhia de seus amigos/atores e de seu parceiro habitual de roteiro, Tobias Lindholm. Da ênfase inicial na cultura da bebida, em que os dinamarqueses se iniciam muito jovens, foi-se abrindo espaço central para outros temas. Sobretudo, o emudecimento e empalidecimento que não raro se instalam na meia-idade, e a necessidade vital de reagir a eles — essa, uma faceta que adquiriu ímpeto absoluto quando, no quarto dia de filmagem, Ida, a filha de 19 anos de Vinterberg que faria o papel da filha de Mikkelsen, morreu em um acidente de carro.

Continua após a publicidade

+ Compre o livro Larousse da cerveja: A história e as curiosidades de uma das bebidas mais populares do mundo

Responsabilidades que tolhem, casamentos mornos, filhos adolescentes que se afastam ou filhos pequenos que consomem toda energia, solidão e estagnação são ao mesmo tempo causa e efeito da sensação dos protagonistas de que a vida virou repetição e se está esvaindo. O álcool, porém, rompe esse círculo e os lança de imediato em um estado de liberdade e de curiosidade, de abrirem-se para o mundo em vez de voltarem-se para si mesmos, de estarem inteiros no presente. Transporta-os, enfim, para um estado análogo à juventude — inclusive na rapidez com que eles perdem o controle da situação e rumam para formas às vezes catastróficas de ruína.

+ Compre o livro A história da Heineken: A cerveja que conquistou o mundo

Assim, embora Vinterberg e Lindholm documentem com precisão — e muita graça e criatividade — e sem julgamento moral as alterações de comportamento associadas ao teor crescente de álcool no sangue, o que está em questão aqui não é só a dinâmica da relação com a bebida: são as razões pelas quais ela se faz necessária, as armadilhas de que liberta os personagens e as outras armadilhas em que os aprisiona. É um dilema que ultrapassa em muito o controle ou descontrole com que se consome álcool. Trata-se, na verdade, de uma escolha entre sentir-se vivo e agir conforme o exigido e o esperado, e de tentar desesperadamente, na base da tentativa e erro, achar um ponto médio entre os dois polos. Mas a esplêndida sequência final, na qual Mikkelsen — que foi bailarino — dança com abandono extasiante (e sem dublês) no meio de seus alunos recém-formados, não deixa dúvida sobre o que Druk quer afirmar: com ou sem álcool no sangue, é fundamental não deixar que nem um segundo da vida escape.

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA de 31 de março de 2021, edição nº 2731

VEJA RECOMENDA | Conheça a lista dos livros mais vendidos da revista e nossas indicações especiais para você.

CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

Kursk: A Time To Die (English Edition)
Kursk: A Time To Die (English Edition)
Larousse da cerveja: A história e as curiosidades de uma das bebidas mais populares do mundo
Larousse da cerveja: A história e as curiosidades de uma das bebidas mais populares do mundo
A história da Heineken: A cerveja que conquistou o mundo
A história da Heineken: A cerveja que conquistou o mundo

*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.