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007 Contra SPECTRE

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Por Isabela Boscov Atualizado em 31 jul 2020, 00h10 - Publicado em 4 nov 2015, 23h55
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    Coração quente, sangue frio.

    Equiparar-se a Operação Skyfall era o desafio de Spectre. Mas está confirmado: nunca na série 007 houve parceria tão espetacular quando a do diretor Sam Mendes com o astro Daniel Craig.

    A morena com que James Bond circula na abertura operática de 007 contra Spectre deve estar até agora esperando por ele na cama de um hotel. “Já volto”, diz Bond à beldade, enquanto sai pela janela do quarto. Não, não volta: o Bond de Daniel Craig é mais ativo e propulsivo que todas as outras cinco encarnações do personagem somadas. A morena que se vire; ela lhe serviu de companhia enquanto, num fabuloso plano-sequência, ele se esgueirava por entre a multidão apinhada nas ruas da Cidade do México para as festividades do Dia do Mortos. Do quarto de hotel em diante, ele segue sozinho, colado a um matador cuja carreira pretende encerrar em definitivo nesse dia mesmo. O que não estava no programa é o tanto de dano colateral que ele vai causar – um quarteirão histórico inteiro posto abaixo, um helicóptero que durante vários minutos ameaça cair sobre a gente aglomerada na Praça Zócalo, fazendo com que as hordas corram para lá e para cá, apavoradas. Tendo recuperado o controle da situação, Bond é visto fazendo algo que seus antecessores nunca fizeram, ao menos não em público: suando em bicas, a transpiração escorrendo por seu rosto e encharcando o colarinho. O México é mesmo quente, e as emoções deste Bond foram sempre vulcânicas. Mas que ninguém se engane. Seu sangue-frio permanece nas temperaturas glaciais de costume.

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    A ambientação no feriado mais simbólico do México não é só um agrado ao país, que teria contribuído com 20 milhões de dólares para o orçamento de Spectre. Desde o título (“espectro”), os mortos são o Leitmotif do filme. Particularmente aqueles mortos meio inquietos, cujas pendências continuam interferindo com os vivos. Como a M de Judi Dench, que foi quem mandou Bond atrás do matador, por meio de uma mensagem que chegou ao agente dias depois de ela ser sepultada. As pistas continuam em um enterro, em que Bond crava sua mira na viúva melancólica (Monica Bellucci, fazendo figuração de luxo). Mr. White (Jesper Christensen), o vilão de Quantum of Solace, reaparece moribundo, mas ainda escondendo cartas na manga – além de um filha que fica linda de morrer em um vestido de seda prateado (Léa Seydoux, a atriz francesa do momento e Bond girl da vez). Outras figuras sepulcrais, estas saídas do passado bem mais distante de Bond, serão decisivas, caso do misterioso Franz Oberhauser (Christoph Waltz).

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    Todos esses personagens estão interligados; são engrenagens de uma mesma máquina, dentro da qual reside o fantasma que de fato assombra o filme – o espectro da vigilância total sobre todo e qualquer cidadão de qualquer país. Esse é o programa que C (Andrew Scott, impecável), o novo galo no terreiro da Inteligência britânica, quer implantar, passando por cima de M (Ralph Fiennes). Acima de tudo, C quer exterminar os agentes da linhagem 00, porque eles têm licença para matar e também para seguir o próprio julgamento e tomar as próprias iniciativas – uma latitude que não combina com as inclinações totalitárias de C (não por acaso, é com “c” que começa o palavrão mais insolente e debochado do inglês britânico, em especial quando endereçado a um homem).

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    Também o diretor Sam Mendes e os roteiristas liderados por John Logan, porém, estão às voltas com um fantasma: o que eles próprios criaram com o espetacular Operação Skyfall. Graças à afinação desse time, há três anos a série 007 celebrou seu cinquentenário com a melhor, mais urgente, mais surpreendente e mais impactante de todas as aventuras do agente secreto. Em Skyfall, Daniel Craig e seu personagem se entenderam de vez – com uma atração mútua tão elétrica que dá para dizer, sem apanhar dos fãs de Sean Connery, que Craig suplantou o Bond original. As críticas foram ardorosas, e a bilheteria foi um estrondo: 1,1 bilhão de dólares, 500 milhões à frente de Cassino Royale, o segundo colocado da série.

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    Superar esse colosso, ou ao menos equiparar-se a ele, é o desafio de Spectre. E, embora o primeiro e o último atos sejam acachapantes, no trecho intermediário percebe-se que Mendes está sentindo a pressão. Tendo enxugado o protagonista de todo excesso e o depurado até a essência em Skyfall, ele está obrigado, aqui, a dar a Spectre a mesma concepção autoral, e a manter Bond nos trilhos do realismo dramático. Coisa que, em filme de 007, nem sempre vem fácil: dosar essa estirpe de escapismo com atualidade política e com a visceralidade de Craig é um trabalho de precisão. Basta o mecanismo desregular-se um tiquinho de nada e pronto, perde-se o torque necessário a cada cena. Lá pelo meio do filme teria, sim, valido a pena dar uma volta extra nos parafusos.

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    Mas, se a primeira impressão é a que dá o tom e a última é a que fica, então Spectre se sai extraordinariamente bem: é virtuosística a maneira como Mendes retoma a impulsão no ato final, e como de novo abre terreno para que Craig use aquela fúria fria que é sua contribuição definitiva ao personagem. Feroz como hooligan em dia de jogo decisivo, Bond sai barbarizando por Londres na defesa de seu time – a Inglaterra, o Parlamento, a espionagem feita à velha moda, o amor de uma boa mulher. O futuro, porém, é incerto: são tantas as confirmações e desmentidos que a esta altura ninguém sabe dizer ao certo se Mendes, Logan e principalmente Craig ficam para mais um filme, ou se vai ser aberta a caça a um novo Bond. Seria desconsolador se a trajetória do 007 de cara amarrada e orelhas de abano se encerrasse por aqui. Hipótese pior, só a de ela prosseguir além do ideal: se há arte ainda mais difícil que a de ser Bond, é a de escolher a hora certa para deixar de sê-lo.

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    Isabela Boscov
    Publicado originalmente na revista VEJA no dia 04/11/2015
    Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
    © Abril Comunicações S.A., 2015

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    007 CONTRA SPECTRE
    (Spectre)
    Inglaterra/Estados Unidos, 2015
    Direção: Sam Mendes
    Com Daniel Craig, Léa Seydoux, Ralph Fiennes, Ben Whishaw, Naomi Harris, Andrew Scott, Christoph Waltz, Rory Kinnear, Monica Bellucci, Jesper Christensen, Dave Bautista, Alessandro Cremona, Stephanie Sigman
    Distribuição: Sony Pictures

    Leia aqui as resenhas de outros filmes de James Bond:

    007 –  O Mundo Não É o Bastante

    007 – Um Novo Dia para Morrer

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    007 – Cassino Royale

    007 – Quantum of Solace (texto)

    007 – Quantum of Solace (video)

    007 – Operação Skyfall (texto)

    007 – Operação Skyfall (video)

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