Assine VEJA por R$2,00/semana
Felipe Moura Brasil Por Blog Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
Continua após publicidade

Trump rasga rótulo de ‘isolacionista’

Ataque dos EUA na Síria confirma análise deste blog em entrevista a O Antagonista

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 8 abr 2017, 11h29 - Publicado em 7 abr 2017, 12h59
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Publicidade

    I. O caso

    Publicidade

    Donald Trump, ao confirmar na quinta-feira (6) ter ordenado a ação militar dos Estados Unidos contra uma base aérea do regime sírio de Bashar Assad, rasgou mais um rótulo aplicado a ele pela imprensa: o de “isolacionista”.

    Segundo o presidente, o alvo, em Homs, é o “aeroporto na Síria do qual se lançou o ataque químico” na terça-feira, que deixou mais de setenta mortos, entre os quais crianças.

    Publicidade

    “Assad sufocou indefesos”, disse Trump.

    O republicano convocou “todas as nações civilizadas” a buscar o fim do “massacre e do derramamento de sangue” que assola a Síria, em guerra civil desde 2011.

    Publicidade

    II. O aviso

    1) Em 19 de janeiro, no post “Explicando Trump“, que incluía a íntegra da minha entrevista ao site O Antagonista, fiz as seguintes distinções:

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    “(…) Trump, convém registrar, não é contra a existência (ou a liberdade):

    – da imprensa livre por chamar de ‘Fake News’ (‘notícias falsas’) a CNN e o BuzzFeed;

    Publicidade

    – do estamento político por denunciar a corrupção em Washington;

    – de intervenções militares por lamentar a Guerra do Iraque e buscar evitar qualquer conflito imediato com a Rússia;

    – da imigração legal por propor medidas para reduzir a imigração ilegal;

    Continua após a publicidade

    – das zonas de livre comércio por cobrar acordos melhores e mais vantajosos para o povo dos Estados Unidos;

    – nem muito menos da globalização (o fenômeno mundial de abertura ao livre comércio entre empresas e indivíduos de países distintos) por rejeitar o globalismo (a concentração de poder transnacional em uma elite de burocratas não eleitos), que é talvez o seu oposto, tendo sido a causa maior da saída do Reino Unido da União Europeia pelo Brexit.

    Essas distinções são essenciais para compreender Trump antes de tomar qualquer posição sobre ele e suas propostas, mas a demonização voluntária feita pela imprensa (…) causa uma confusão dos diabos: uma espécie de confusão metonímica, na qual se confunde a parte com o todo e vice-versa.”

    2) Destaco abaixo um trecho daquela gentil entrevista.

    “O Antagonista – Sou um homem da Guerra Fria, sempre defendi a supremacia dos Estados Unidos e o dever dos americanos de defender o mundo livre contra as tiranias. Você não considera assustador o discurso isolacionista de Donald Trump, que exacerba o acovardamento de Barack Obama?

    FMB: É cedo para me assustar, porque não encaixo exatamente na categoria do isolacionismo, seja econômico ou militar, o discurso de Trump até aqui.

    Continua após a publicidade

    Ele é um homem prático, um negociador pragmático que busca, com ameaças e estratégias ousadas, garantir maiores vantagens para o lado que defende em qualquer negociação, não um intelectual ou ideólogo com diretrizes doutrinárias a seguir independentemente do cenário circunstancial.”

    Pois bem.

    Alegadamente, diante do cenário circunstancial de um ataque químico que deixou mais de setenta mortos, entre os quais crianças, Trump deu a ordem para o bombardeio de retaliação.

    O Antagonista, claro, está aliviado: “Viva os americanos”.

    III. As reações

    A despeito de numerosas teorias que já circulam nas redes, ainda é cedo para ter certeza sobre as próprias circunstâncias e os reais motivos e objetivos da intervenção militar dos EUA na Síriaou fazer juízo de valor a seu respeito, até porque nem todas as informações de Inteligência são tornadas públicas.

    Continua após a publicidade

    No entanto, como Trump, o isolacionismo e o intervencionismo dividem internamente tanto a esquerda quanto a direita americanas, as reações ao ataque são variadas.

    A decisão de Trump está sendo apoiada por vários de seus mais ferrenhos adversários e críticos, seja no Partido Democrata, com Hillary Clinton e outros, seja no Partido Republicano, com John McCain e Marco Rubio, seja entre autores conservadores, como Ben Shapiro; mas também por apoiadores de Trump, como Mark Levin, Laura Ingraham e alguns comentaristas da Fox News.

    A decisão está sendo esculhambada por vários dos maiores defensores de Trump, como a conservadora Ann Coulter, o colunista do site InfoWars Paul Joseph Watson e a turma do Breitbart, o site ligado a Steve Bannon, chefe de Estratégia da Casa Branca que, de modo sintomático, foi afastado por Trump do influente Conselho de Segurança Nacional (NSC) às vésperas da intervenção.

    Já o radialista conservador Rush Limbaugh ofereceu, com ironia, aos “esquerdistas assustados” a seguinte explicação:

    “A Síria mentiu para Barack Obama e [seu então secretário de Estado] John Kerry sobre ter se livrado de armas de destruição em massa… Este ataque foi tomado para defender a honra de Obama. A ‘Linha Vermelha’ de Trump foi terem mentido para o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Fica melhor assim?”

    Continua após a publicidade

    Obama havia estabelecido o uso de armas químicas na Síria como “Linha Vermelha”, isto é, o limite que Assad não poderia cruzar, embora não tenha retaliado o regime quando surgiu a notícia, ainda durante seu governo, de que Assad as usou.

    Para o site Wikileaks, sempre acusado de associação com os russos, Trump teria caído em uma armadilha, enganado pelo complexo militar e pela burocracia governamental.

    O presidente russo Vladimir Putin, aliado de Assad, foi mais incisivo: condenou o ataque dos EUA como “agressão a um Estado soberano” baseada em “pretextos inventados”, e ainda suspendeu a coordenação militar que tinha com os EUA na Síria.

    Como a equipe de Trump vem sendo acusada de conluio com Putin para a vitória eleitoral, é curioso assistir à reação dos acusadores agora que os dois estão em lados opostos.

    Naturalmente, portanto, surgem desde já as teorias de que Trump quis provar, com o ataque, o desprendimento em relação a Putin; e até de que tudo não passa de um teatro armado por ambos.

    Com uma ou outra exceção, porém, o elemento mais comum entre imprensa, “especialistas”, adversários e, dessa vez, até defensores de Trump é a surpresa.

    Para os leitores deste blog – que faz análise, não torcida –, mais uma vez surpresa não há.

    Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

    Siga no Twitter, no Facebook e na Fan Page.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.