Tuitei em 13 de janeiro:
Claro que não vão.
A população brasileira fica refém de bandidos impunes em decorrência da cumplicidade e da irresponsabilidade fiscal dos governos federal e estaduais, mas o Supremo Tribunal Federal, presidido por Ricardo Lewandowski, pretende gastar mais R$ 3,6 milhões por ano para ter outros 29 guarda-costas disponíveis exclusivamente para seus ministros, já que os 90 seguranças previstos no contrato anual de R$ 10 milhões ficam à disposição do STF e não somente dos membros da Corte.
Detalhe pitoresco: é exigência contratual que cada segurança esteja “barbeado, [com] cabelos aparados e limpos, sapatos engraxados e devidamente uniformizado”, quem sabe à moda Luís Roberto “Minha Posição” Barroso.
Pois bem.
Nesta segunda-feira (22), Lewandowski deu início no Espírito Santo ao “Cidadania nos Presídios”, eufemismo para o projeto que agiliza a liberação de detentos, três dos quais tiveram o alvará de soltura assinados pelo próprio presidente do STF no Complexo Penitenciário de Viana.
Só no estado, 30% (quase 6 mil) dos presidiários serão colocados em liberdade em até nove meses, no processo que será espalhado por todo o país graças a mais um golpe do Supremo contra o Poder Legislativo (e contra a autoridade dos delegados), cometido em agosto de 2015, após campanha de Lewandowski em favor das “audiências de custódia”.
Na ocasião, a maioria da Corte julgou improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 5240) em que a Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol/Brasil) questionava a realização do procedimento por meio do qual um detido em flagrante deve ser apresentado ao juiz em até 24 horas.
Sobre a medida, este blog recomenda o artigo “Os mitos da audiência de custódia“, do doutor desembargador Guilherme de Souza Nucci, que desmascara ponto a ponto a propaganda adversária.
Aproveito, no entanto, para desmascarar mais uma vez o discurso militante de Lewandowski.
“Do ponto de vista político, temos que concordar que essa é uma medida impopular. Não é algo sempre compreendido pela população de maneira geral, mas é algo que se faz absolutamente necessário porque hoje somos o 4º país no mundo que mais encarcera”, disse o presidente do STF.
O povo que não tem dinheiro para pagar seguranças, porque já paga os do STF, compreende perfeitamente que corre mais perigo com a libertação de presidiários, mas Lewandowski prefere, na prática, chamar o povo de idiota para fingir que há um motivo nobre e técnico por trás disso.
O ministro, ademais, maquia o dado sobre a população carcerária no país para legitimar a soltura dos detentos, usando o velho truque esquerdista já desmascarado neste blog aqui, aqui e aqui.
Lewandowski omite que o Brasil tem a 4ª maior população carcerária do mundo apenas em número absoluto de presos, o que é absolutamente natural, dado que o país tem a 5ª maior população do mundo – atrás apenas de China, Índia, EUA e Indonésia.
Em números relativos, que são os que realmente importam, o Brasil, atualmente, está na 31ª(!!!) posição no ranking mundial de população carcerária, empatado com o Bahrein, com 301 presos por 100 mil habitantes.
(Qualquer um pode checar os diferentes rankings do ICPS neste link. É a maior referência mundial no assunto, inclusive para o Ministério da Justiça brasileiro, que o cita no relatório do Infopen, obviamente maquiando os dados, como mostrei aqui.)
Relembro abaixo o meu vídeo debochado sobre o velho truque esquerdista, lembrando que os dados do ICPS são atualizados com frequência, o que resulta em pequenas mudanças de posição dos países ao longo do tempo, mas jamais uma subida de 27 posições do Brasil, como os militantes gostariam.
A suprema mentira tem de acabar.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=ZFBez9dm-vE?feature=oembed&w=500&h=281%5D
PS: O que se deve destruir no Brasil não é a “cultura do encarceramento”, da qual fala Lewandowski – que naturalmente, aliás, foi voto vencido na recente decisão do Supremo de autorizar prisão após julgamento em 2ª instância -, mas sim a “cultura do crime”, da qual falei detalhadamente aqui.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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