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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Caso Romário/BSI volta à tona e Rodrigo Janot tem obrigação de investigar

Internautas perguntam ao senador: cadê o parecer do Ministério Público da Suíça?

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 00h01 - Publicado em 26 nov 2015, 20h06

Atualizado às 22:20.

A revista VEJA publicou em julho um documento em que o senador Romário aparece como titular de uma conta na Suíça.

Eu, Felipe Moura Brasil, colunista, sem ligação com a matéria original, comentei aqui em agosto:

“O BSI, comprado por 1,7 bilhão de dólares no ano passado pelo brasileiro BTG Pactual, de André Esteves, tem total interesse em tentar demonstrar que não permitiu o vazamento de informação sobre a conta de um cliente. Qualquer vazamento para um banco é trágico e os suíços vivem dos segredos dos milionários que lá escondem sua grana.

Acontece que meros pronunciamentos de Romário e do BSI sobre a inexistência da conta não provam a falsidade do extrato, nem que ela nunca existiu.

Servem, no entanto, para proteger a imagem do senador e do banco entre aqueles que sentem necessidade de tomar posições antes que os fatos sejam devidamente esclarecidos.”

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Agora André Esteves está preso.

Este simples fato já seria suficiente para despertar desconfiança sobre o que ele é capaz de fazer para proteger um banco que comprou.

Como o Ministério Público Federal o acusa de ter tentado comprar o silêncio do já condenado Nestor Cerveró a fim de proteger exatamente o seu banco e a si próprio, a desconfiança aumenta ainda mais.

Mas não para por aí.

O “estranho diálogo” contido na gravação que resultou nos mandados de prisão contra André Esteves, o senador petista Delcídio Amaral e seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira, além de Edson Ribeiro, advogado de Cerveró ainda foragido nos EUA, “parece reabrir o caso”, como diz VEJA na matéria “A história de um retrato”, publicada nesta quinta-feira (26).

A conversa foi gravada por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras.

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Eis o trecho sobre o caso Romário:

EDSON RIBEIRO – Ué, fizeram acordo, né?

DELCÍDIO DO AMARAL – Diz o Eduardo que fez.

RIBEIRO – Tranquilo. Foi Suíça.

DELCÍDIO – Foi?

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RIBEIRO – Tinha conta realmente do Romário.

BERNARDO CERVERÓ – Tinha essa conta?

DELCÍDIO – E em função disso fizeram acordo.

RIBEIRO – Tinha dinheiro no banco que foi encontrado. Tira, senão você vai preso.

DELCÍDIO – O que eu achei estranho foi ele (Eduardo Paes). Eu disse: Romário, o que você está fazendo aqui? E ele me disse: Eu estou acompanhando o Eduardo.

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RIBEIRO – Esquisito né? Essa é a informação que me deram.

DELCÍDIO – (Com) o Eduardo eu tenho intimidade, principalmente na CPI dos Correios (presidida por ele, tendo Paes de sub-relator). Ele era meu braço direito na CPI. Ele me disse: – Não, Delcídio. Eu chamei o Romário, disse na frente do Romário, nós acertamos uma aliança para o Romário apoiar o Pedro Paulo (candidato de Paes a sua sucessão na prefeitura do Rio de Janeiro) Mas tem esse motivo, é? Não é possível o que aconteceu. Quando eles chegaram, eu disse: – O que vocês estão fazendo aqui, juntos? Daí o Eduardo explicou que fizeram uma composição. Daí eu fui fazer uma foto e eles fizeram juntos com as mãos.

A conversa acima vem logo em seguida à explicação que Delcídio dá aos demais sobre o seu atraso para o encontro.

Na gravação, como contextualiza a VEJA, “Delcídio diz que recebeu em seu gabinete no Senado o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes, seu braço-direito, Pedro Paulo Carvalho, e Romário no dia 4 de novembro. O primeiro à esquerda na foto é o senador Ricardo Ferraço”.

acordo-original

Ferraço, Paes, Delcídio, Romário e Pedro Paulo: o senador se uniu ao candidato de Paes dias DEPOIS da revelação de que Pedro Paulo agrediu a ex-mulher

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A VEJA continua:

“Quando se junta o diálogo com a fotografia, o que se depreende da situação é que os presentes falaram com certo espanto de um ‘acordo’ político que teria sido feito entre Paes e Romário (ele desistiria de sua candidatura à prefeitura do Rio e apoiaria o candidato de Paes) ’em função’ da conta do ex-craque no banco suíço BSI – comprado em 2014 pelo BTG Pactual, de André Esteves, também preso”.

“A reunião em que mãos superpostas celebraram o acordo ocorreu no dia 4 de novembro passado. A reportagem de VEJA foi publicada em julho. O desmentido de Romário e do BSI vieram no começo de agosto. VEJA se desculpou com Romário pelo seu site no dia 5 de agosto e, na revista impressa, na edição com data de capa de 12 de agosto.

Que força teria o prefeito Paes, três meses depois desses eventos, para pressionar Romário? A resposta a essa pergunta, até que mais fatos sejam conhecidos, só pode ser respondida no terreno da lógica especulativa. Guilherme Paes, irmão de Eduardo Paes, é sócio do BTG, o banco que comprou o BSI, que emitiu nota desmentindo a informação de VEJA sobre a conta de Romário.

Paes poderia ter convencido Romário a fazer o acordo usando como mecanismo de pressão a ameaça de se valer do irmão para revelar que a conta do ex-craque na Suíça efetivamente existe ou, pelo menos, existiu? É uma especulação lógica. Também o seria admitir que Paes pode ter falado da descoberta de outras contas de Romário na Suíça – não necessariamente aquela que deu ensejo à reportagem de VEJA em julho.

Romário usou sua página no Facebook para se manifestar sobre os diálogos gravados pelo jovem Cerveró”.

Eu, colunista, lembrando que contestar argumentos e cobrar transparência não são o mesmo que acusar alguém de qualquer crime, comento ambas as frases de Romário citadas na matéria de VEJA:

1) ‘O advogado levanta suspeita sobre um assunto que já foi esclarecido por mim e pelas autoridades brasileiras e suíças. (…)

Quando Romário diz que “o assunto” (termo genérico) já foi esclarecido por “autoridades” (termo genérico) “brasileiras e suíças” (é mesmo?), ele encobre os fatos que realmente vieram a público, não sem distorcê-los no fim.

Banco suíço não é nem nunca foi “autoridade” no sentido que a frase do senador transmite.

Autoridade seria o Ministério Público da Suíça para o qual o BSI simplesmente disse ter encaminhado um pedido de abertura de investigação sobre o suposto extrato que alegou ser falso. Esse pedido feito pelo banco, sim, veio a público.

Nele, o BSI apontou que “pode estabelecer com certeza que o extrato da conta é falso e que o sr. Romário de Souza Faria não é, portanto, titular de dita conta em nosso banco na Suíça”.

O banco – onde quatro contas já foram bloqueadas a pedido da Lava Jato, incluindo uma de Eduardo Cunha – não falou se Romário é ou não titular de alguma outra conta da instituição nem se já teria sido correntista no passado.

O MP suíço, por sua vez, nem sequer confirmou publicamente ter recebido o tal pedido.

A hipótese de que o pedido tenha servido apenas como uma cortina de fumaça temporariamente bem-sucedida, sem ter chegado ao seu suposto destino, não pode ser descartada por qualquer analista que faz especulação lógica em cima dos fatos disponíveis.

Internautas desconfiados estão cobrando explicações de Romário sobre o caso e, numa das respostas, ele afirma: “Tenho pareceres dos dois ministérios públicos (Suíça e Brasil) que não tenho conta na Suíça”.

Nenhum desses supostos pareceres veio a público.

O MP brasileiro, onde foi protocolado o suposto extrato em julho, declarou apenas que Romário não estava sendo investigado. Isto quer dizer apenas que nenhuma investigação foi iniciada, não que o senador não tem, ou teve, conta na Suíça.

Quando uma internauta pede que Romário publique o suposto parecer do MP suíço, Romário não responde mais.

Veja os prints:

Romário print crop

Romário print MP

Mas não para por aí.

Guilherme Amado ainda informa no Globo nesta quinta-feira:

“O Ministério Público em Genebra afirmou que só vai começar a investigar a suposta conta de Romário no BSI — banco de André Esteves — quando for oficialmente provocado pela Procuradoria-Geral da República do Brasil.

Segundo o MP Suíço, este é o procedimento considerando que qualquer crime em torno do assunto, se praticado, foi praticado no Brasil.

Disse Henri Casa, encarregado de imprensa do MP de Genebra:

— A suposta fraude foi cometida no Brasil. Depende de autoridades brasileiras enviarem um pedido de cooperação mútua.

Ou seja, no caso Romário, a bola está com Rodrigo Janot.”

Ou seja, comento eu: se o MP suíço não investigou o caso de julho até agora, e se precisa de pedido do PGR brasileiro para tanto, o suposto parecer de Romário não pode ser sobre a suposta falsidade do documento revelado por VEJA.

E se o suposto parecer for apenas sobre a inexistência da conta, por que Romário não o revelou?

Cadê esse parecer que os internautas estão cobrando, senador? Onde foi que o MP suíço disse que a conta nunca teve o senhor como beneficiário, procurador ou mesmo dono?

Este blog considera evidente que Rodrigo Janot tem OBRIGAÇÃO de investigar o caso, pedindo cooperação mútua ao MP em Genebra – e de questionar este MP caso tenha sido oferecido um parecer indevido a Romário sem um pedido oficial do PGR brasileiro.

Tudo isso, claro, independentemente da discussão sobre ter havido ou não um acordo com os irmãos Paes ligado a este caso.

Mas vejamos a próxima afirmação de Romário.

2) ‘Qual a credibilidade do advogado de um bandido, corrupto e responsável por roubar uma das principais empresas do país?’.”

Questionar a credibilidade do “advogado de um bandido” é só fazer marketing, coisa em que Romário também sempre foi craque. Em primeiro lugar, o próprio Delcídio confirma o que Edson Ribeiro diz. Em segundo, a Lava Jato avançou graças a delações de bandidos, cuja credibilidade, em todos os casos, foi questionada por aqueles que eles implicaram.

Ademais: por que a palavra do advogado de Cerveró (flagrada em gravação que ele não sabia estar sendo feita) valeria menos que a de um banco cujo dono foi preso junto com ele? Romário nem se dá conta de que seu argumento se volta contra si.

Resultado: três meses depois do meu artigo, uma porção de internautas não mais entuba tão facilmente essa história.

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Sobre o suposto acordo com Paes para apoiar o candidato que agredia a ex-mulher, até o autor da página Dilma Bolada e outros militantes de esquerda que preferem Marcelo Freixo, Alessandro Molon ou Marcelo Crivella estão cobrando explicações:

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Volto então à matéria de VEJA:

“O prefeito Eduardo Paes admitiu em nota que esteve no gabinete do senador Delcídio do Amaral, no dia 4 de novembro, na companhia dos senadores Ricardo Ferraço e Romário e do secretário Municipal de Governo, Pedro Paulo, mas ’em busca de apoio para colocar em pauta e votar o projeto de Resolução do Senado Federal 17/2015 (que altera a resolução 43/ 2001)’. A nota informa que a matéria, já aprovada, ‘é de autoria dos senadores Romário e José Serra, e trata da securitização das dívidas de estados e municípios’. Paes nega o acordo mas reafirma que ‘gostaria de ter o apoio político de Romário ao seu candidato à Prefeitura do Rio em 2016′.

VEJA considera relevante o diálogo registrado nas gravações de Bernardo Cerveró e o toma como mais um motivo para, como escreveu no pedido de desculpas a Romário em agosto passado, continuar ‘apurando o episódio’, internamente revisando o ‘processo que, sem nenhuma má-fé’, resultou na reportagem e, na frente externa, tentando ‘esclarecer as ações de pessoas antes e depois’ de sua publicação.”

Há muita coisa, de fato, a ser esclarecida nesta história. As merecidas glórias de Romário no futebol não o eximem da vigilância que a sociedade, a imprensa e as verdadeiras autoridades precisam ter sobre poderosos senadores da República.

Este blog cumpre o seu dever de analisar os fatos, a despeito de todos os ataques.

Cumpra o seu também, Rodrigo Janot.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

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