Um monte de defensores dos grevistas da PM do Espírito Santo veio me atacar no Facebook por causa (mais do título do que do conteúdo) do programa Sem Edição que gravei na quarta-feira (8) com Silvio Navarro e Augusto Nunes: “Chantagistas reduzem ES a terra sem lei“.
Eis o meu recado:
Eu apontei no texto anterior (“As causas culturais do caos no Espírito Santo“) como os governos do estado, assim como os federais, tradicionalmente não dão prioridade à segurança pública. Mas esta irresponsabilidade dos governos, entre outras que também listei neste blog, não ameniza de modo algum a decisão irresponsável e ilegal de policiais militares de sair em greve.
Agradeço muito, porém, a todos que vêm comprovar o que eu disse no programa: que policiais militares que deixam a população refém de bandidos porque querem aumento salarial colocam a sua insatisfação profissional acima da preocupação com a vida dos cidadãos. Em vez de pedirem demissão ou exoneração, e aguardarem TRABALHANDO a aceitação delas ou o prazo do contrato, como é o correto em qualquer área de atuação pública ou privada em caso de insatisfação com o salário recebido, eles colocam vidas em risco com a recusa em prestar à sociedade o serviço de PM.
A dificuldade de parte de seus apoiadores em aceitar tamanha obviedade provém de fatores culturais. Infelizmente, no Brasil, prevalece a cultura de que o Estado deve tudo a todo mundo – não a de que cada indivíduo é responsável pelas suas escolhas. Ao escolher trabalhar para o Estado, como para qualquer outro empregador, ele sabe – ou deveria saber – que seu salário poderá ficar muito aquém das expectativas em algum momento (seja de crise econômica ou política) e que só lhe restará os meios legais de negociar, o que pode não render o salário desejado, sendo portanto melhor ter um plano B para a carreira caso não consiga aumento e permaneça insatisfeito, ainda que com razão.
Não se regateia com a vida alheia por aversão ao risco de recomeçar a própria.
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Pós-escrito 1:
Há direitistas que, comportando-se como esquerdistas, sobrepõem a defesa de um grupo (como a “PM”) à análise da realidade dos fatos específicos. Com efeito, legitimam ilegalidades de determinados policiais militares em nome do grupo com o qual simpatizam, se estas forem realizadas por uma causa considerada justa. Como dizia Nelson Rodrigues: “No Brasil, o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se marxista sem estudar, sem pensar, sem ler, sem escrever, apenas respirando.”
Pós-escrito 2:
Não se contraponha à esquerda com ideologia contrária que sobrepõe defesa de grupos à da lei e da moral. Abra-se radicalmente à realidade. Leia Eric Voegelin.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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