Em entrevista ao Painel RBS da TVCOM, do Rio Grande do Sul, na quinta-feira, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, criticou o decreto 8.243 assinado pela presidente Dilma Rousseff (PT) e apoiado pela candidata Marina Silva (PSB), como tantas vezes expus neste blog. Aos 17min55seg do vídeo que pode ser assistido aqui, Aécio mostrou o perigo que a “democracia direta” representa para a democracia de fato, com a criação daquilo que o PT chama de “conselhos populares”:
“Me preocupa inclusive a criação desses conselhos, propostos pelo governo federal às vésperas das eleições, que na verdade buscam substituir em parte a responsabilidade e o poder do Congresso Nacional. São conselhos indicados pelo governo para ocupar o papel daqueles que são eleitos pelos cidadãos.”
Citando os entrevistadores do programa como exemplos desses cidadãos, Aécio completou:
“Porque, bem ou mal, Rosane, o Congresso é eleito por você, por mim, pelo Marcílio, pela Carolina. Então eu acho que, se as pessoas votaram errado, elas têm a possibilidade de, lá na frente, corrigirem o seu voto.”
Sim. O nome disso é democracia – ponto. Já com os conselhos – que, de populares, só têm o nome -, o povo trabalhador e a gestão pública ficam subordinados a uma falsa “sociedade civil” constituída pelos militantes dos movimentos sociais financiados e controlados pelo PT, incluindo o MST de João Pedro Stédile, do qual Marina veste o boné como uma autêntica petista de raiz.
Já mostrei aqui como a candidata do PSB celebrou a criação dessa barbaridade golpista – prevista na agenda do Foro de São Paulo do qual seu partido faz parte há duas décadas – como “uma inovação na gestão pública”, dizendo ainda que “o decreto poderia ter sido feito antes”, “mas antes tarde do que nunca”. De todo modo, vale comparar a declaração de Aécio com a que Marina deu em entrevista no Jornal da Globo.
William Waack: A pergunta é: a senhora é a favor da democracia direta?
Marina Silva: E quem foi que disse? Eu sou a favor da combinação das duas coisas. A Constituição brasileira assegura as duas coisas. Nós não podemos achar que uma coisa é em prejuízo da outra. Pelo contrário. Há um processo de retroalimentação entre a participação do cidadão dos diferentes setores que enriquece o processo democrático e, obviamente, que temos que ter instituições que passam a ser o polo estabilizador da democracia.
Marina não disse ser contra a “democracia direta”. Disse, com seu típico discurso marqueteiro genérico, que era “a favor da combinação das duas coisas”, o que nada mais é que ser a favor de destruir a democracia (como comentamos no nosso hangout), mas, a princípio, só um pouquinho, sabe? Assim ela agrada à militância de esquerda e não tira a esperança dos marinistas de direita.
Todo mundo já se deu por satisfeito e ninguém está mais a fim de questionar nada, muito menos exigir um compromisso. Só o que interessa é proteger a vítima Marina contra os ataques de todos os lados. Na ânsia de poupá-la, naturalmente se poupa o público de saber em quem está votando. Mas no Brasil, quando surge uma esperança – dessa vez contra o petismo -, as pessoas se agarram cegamente a ela.
Como anotei no Facebook:
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
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