Em 1965, o cineasta Mike Nichols introduziu ao cânone cinematográfico a personagem Mrs. Robinson (Anne Bancroft), de A Primeira Noite de Um Homem, eternizada também na música pela serenata de Simon & Garfunkel: uma mulher mais velha que busca em um jovem graduando a energia sexual e afetiva que lhe falta em seu casamento. Emoldurando o protagonista de Dustin Hoffman com suas pernas, ela deu o pontapé no Complexo de Édipo que nunca mais deixou o cinema americano, muito aproveitado por besteiróis como American Pie: A Primeira Vez É Inesquecível, que popularizou o termo “milf” com Jennifer Coolidge, referente a mulheres atraentes acima dos 40 anos. Em 2023, porém, filmes de orçamento intermediário como pastelões já não são feitos como outrora, nem o sexo é discutido na mesma linguagem.
Mesmo assim, Que Horas Eu Te Pego?, em cartaz nos cinemas, se orgulha do título canastrão e promete retomar o gênero: na trama, Maddie (Jennifer Lawrence) vive em uma pequena cidade litorânea dominada por turistas ricaços, mas está longe de ter uma boa conta bancária. Motorista de Uber e bartender, ela perde metade de sua renda após ter o carro guinchado, e corre o risco de perder a casa de sua família. Uma solução inusitada, porém, aparece quando a protagonista se depara com o anúncio “Precisa de um carro? ‘Namore’ nosso filho neste verão”. Ela aceita a proposta dos pais superprotetores e, então, se dedica à dura missão de cativar e seduzir o tímido Percy (Andrew Barth Feldman), de 19 anos, que não sabe do contrato selado. Medroso, o rapaz é nulo no vigor libidinoso adolescente que costuma permear comédias de sexo — uma curiosa quebra de expectativa em tramas joviais.
Que Horas Eu Te Pego? funciona, justamente, pela inovação da dinâmica: desta vez, nenhuma das partes realmente deseja explorar o Kama Sutra, nem a virgindade é preocupação máxima. Aqui, sexo não passa de uma atividade, e assim, são desarmadas as convenções do gênero. Mesmo que 13 anos mais velha, Maddie não pode ser chamada de “adulta” com todo o peso da palavra, dados os obstáculos financeiros e sociais que a mantêm em um estado de imaturidade eterna. Já Percy é um cavalheiro feito, mas vítima de uma ansiedade geral — pauta que ganha força entre a geração Z.
Enquanto Feldman desenvolve as neuroses de seu personagem com comédia física clássica, cada passo de Lawrence parece fugir de modelos que a precederam. Ela não possui o glamour nem a delicadeza de Mrs. Robinson, e suas tentativas de encarnar o ideal masculino de feminilidade são desengonçadas e cartunescas. Seu corpo nu é exibido apenas uma vez, no auge de sua voracidade cênica, em momento hilariante, mas nada erotizado. Repleta de falhas, a personagem é vulgar, desagradável e um prato cheio para a atriz, que nunca esteve tão carismática e vibrante em sua carreira estrelada repleta de dramas emoldurados para o Oscar. Mergulhada em química, a dupla impõe a afeição necessária para que as risadas e os momentos sentimentais — mais presentes que o esperado — se sustentem.
Expandindo o escopo para além da dupla central, o texto esbarra em fraquezas na hora de estabelecer seu ritmo e comentários sobre gentrificação feitos pela metade — no que parece ser uma homenagem aos filmes de humor lançados durante a última recessão americana. Maddie não hesita em alfinetar a inflação local causada por famílias abastadas, mas seus ideais vagos e a obrigatoriedade de um final feliz não permitem que as críticas atinjam seu potencial. Que seja. Indômita, Lawrence se recusa a ser reduzida ou a reduzir seus trabalhos, e — fantasiada de sex symbol — se afirma, reluzente, uma estrela de cinema completa.