Hollywood enfim se recuperou dos anos de pausa em decorrência da pandemia da Covid-19 e agora passa por um momento aquecido pelo sucesso do Barbie. As greves de atores e roteiristas, porém, ameaçam paralisar a indústria novamente. No momento, profissionais da área se recusam a trabalhar até que as demandas por melhores condições de pagamento e regulação do uso de inteligência artificial sejam acatadas pelo status quo, mas, inflexíveis, executivos tentam exaurir os manifestantes adiando lançamentos que os trariam renda no futuro próximo — incluindo estreias aguardadas como Homem-Aranha: Além do Aranhaverso e Rivais, com Zendaya —, com a esperança de que os protestos cessem e as faces estreladas voltem aos sets, tapetes vermelhos e cadeiras de entrevistas.
Em relato ao veículo americano Variety, o chefe da rede de cinemas Bow Tie, Joe Masher, afirma estar celebrando o fluxo promovido por Barbie, mas teme o que vem em seguida: “Caso a greve seja estendida, tenho preocupações sérias”. Chris Randleman, empresário da concorrente Flix Brewhouse, é mais enfático: “Os estúdios cometem um erro grave ao adiar partes essenciais de seu calendário de 2023, e este é um golpe severo nas salas, que estão se recompondo agora mesmo. A indústria não aguenta mais uma rodada de mudanças drásticas. Isso vai machucar a todos.”
Até o momento, a empresa mais afetada é a Sony Pictures, que já reestrutura seu futuro. Gran Turismo: De Jogador a Corredor, que chegaria aos cinemas do mundo no dia 11 de agosto, foi empurrado em duas semanas e agora estreia no dia 25. Em efeito dominó, a sequência de Ghostbusters: Mais Além, ainda sem título, foi do natal de 2023 a março do próximo ano, enquanto Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos, — que estrearia em setembro — foi para dezembro. Homem-Aranha: Além do Aranhaverso, previsto para março de 2024, agora foi retirado por completo do calendário do estúdio, sem data para ver a luz do dia.
O estúdio Warner Bros., por sua vez, adiou Rivais de 14 de setembro deste ano para abril de 2024, e considera jogar Duna: Parte Dois de novembro para o ano que vem, além de procurar novas janelas para o musical A Cor Púrpura e o filme de super-herói Aquaman 2. Através de todas as empresas californianas, as perspectivas de Hollywood vacilam, e outros filmes aguardados arriscam ser atingidos pelo remanejamento, como As Marvels, do Disney+, Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes e Assassinos da Lua das Flores, novo épico de Martin Scorsese. Para além dos títulos de 2023, a novidade afeta todos os longas destinados a segui-los, atrasando múltiplas produções americanas.
Para donos de salas de cinema como Joe e Chris, a previsão de escassez é aterradora, já que sob condições normais, as bilheterias americanas já levantam 20% a menos do que antes da pandemia. Sem lançamentos atrativos, muitos cinemas podem ser enfim estrangulados pelo streaming e fecharem as portas, o que oferece aos estúdios um espaço menor para a disseminação futura dos lançamentos que agora seguram. Por outro lado, o momento pode promover uma distribuição mais abrangente de títulos internacionais e independentes: em solidariedade àqueles que respeitam as demandas pelas quais lutam, os sindicatos permitem que produtoras menores como a A24, de Hereditário e Pearl, continuem os trabalhos.
Também à Variety, Greg Marcus, CEO da quarta maior rede de cinemas dos Estados Unidos, a Marcus Theatres, procura manter as esperanças, apontando que o público que vem para assistir Barbie e Oppenheimer encontra uma série de trailers interessantes antes dos filmes, e afirma: “O momento é ótimo? Não, mas não é comparável à pandemia. Quando os atores entram em greve, as pessoas não ficam presas em casa.”