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De ‘O Exorcista’ a ‘Som da Liberdade’: o pior do cinema em 2023

Marcados por ares de propaganda, histórias reais desperdiçadas e interpretações grotescas, estes cinco filmes foram algumas das obras mais exaustivas do ano

Por Thiago Gelli Atualizado em 9 Maio 2024, 18h22 - Publicado em 20 dez 2023, 13h00

O ano de 2023 foi sinal de nova maré em Hollywood: em meio à fadiga de filmes de heróis, longas advindos de visões distintas como Oppenheimer Barbie puderam ascender ao posto de líderes de bilheteria, enquanto a atual temporada de premiações foi se formando a partir da boa repercussão de histórias provocativas e plurais. Por outro lado, o ano também foi marcado por blockbusters oportunistas e narrativas carregadas de pânico conservador — enquanto grandes lançamentos do cinema nacional pegaram emprestada uma das piores tendências americanas: o true crime sem propósito, ancorado por mero interesse mórbido e observações rasas. Confira quais foram as maiores perdas de tempo que ocuparam as salas de cinema e os catálogos de streaming este ano:

Som da Liberdade

Inspirada na suposta jornada heroica de Tim Ballard, um agente federal que teria desmantelado uma rede internacional de tráfico sexual de crianças, o filme acabou chamando a atenção não pela necessária mensagem antipedofilia, mas sim por aspirações políticas perigosas e contestáveis. O protagonista Jim Caviezel é simpatizante do movimento QAnon — grupo adepto de teorias conspiratórias absurdas —, o que ampliou o público de radicais de extrema-direita, que fantasiam com a ideia de que exista uma grande organização criminosa formada por políticos de esquerda e  astros de Hollywood envolvidos no sequestro de criancinhas para rituais bizarros. Ironicamente, na vida real, Ballard está sendo investigado por má conduta sexual durante suas missões de resgate de vítimas.

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A Menina que Matou os Pais – A Confissão

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Dois anos após a sessão dupla mais inócua do cinema brasileiro recente, o cineasta Maurício Eça e os protagonistas Carla Diaz e Leonardo Bittencourt botaram as mãos nas perucas novamente para mais um capítulo desnecessariamente extenso e pouco eloquente sobre o chocante caso de Suzane von Richthofen. Dessa vez, Diaz veste o famoso cropped que a jovem usou durante o funeral dos tutores assassinados e interpreta os acontecimentos da investigação que sucedeu o crime, dando vida ao roteiro baseado nos autos do caso aos quais Ilana Casoy — que assina o texto com Raphael Montes — teve acesso. Sem imaginação cênica e dramatúrgica para além de simples recriações, porém, o filme cai na imaginação histriônica e não desenvolve discurso algum sobre a cobertura do caso. Sem refletir sobre espetacularização do caso, a saga espanta o espectador com apenas uma ameaça: que por mais que não haja mais nada a se dizer sobre Suzane, ela será mantida sob os holofotes.

O Exorcista: O Devoto

Para celebrar os 50 anos do clássico O Exorcista, o estúdio Universal desembolsou 400 milhões de dólares e correu para produzir uma nova trilogia da saga sob a direção de David Gordon Green, responsável pelos últimos três longas do universo Halloween. A estreia mundial da empreitada em uma sexta-feira 13, porém, a cobriu sob uma maré de azar. Grotescamente despido de carisma, imaginação visual ou razão de ser, O Devoto decepcionou fãs do original e falhou em capturar um novo público. Tentando ser mais inclusivo e agnóstico que o filme de 1973, o longa jogou fora foco e iconografia, caindo na armadilha de se ater a dogmas fundamentalistas e ao choque barato, faceta mais genérica do horror cinematográfico. Para piorar, as mensagens ambíguas dispostas por Gordon Green — pouco pensadas —, dão ao longa o tom de uma parábola careta, enquanto a estética evoca aos piores cacoetes da franquia Sobrenatural. Se o original será sempre lembrado como melhor terror da história, O Devoto se garante no cânone dos mais vergonhosos.

Ângela

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Idealizado como um romance de final trágico, o longa carece das camadas que fizeram do assassinato de Ângela Diniz um dos casos de maior repercussão no Brasil. Além da morte propriamente dita, nada do absurdo contexto sexista e do julgamento do caso aparecem no longa e a personagem de Ísis Valverde acaba resumida às agressões sofridas no relacionamento abusivo e a seu assassinato. O resultado é uma narrativa que explora a tragédia pela tragédia — e um filme que parece estar pela metade.

Mistério em Paris

Existem filmes ruins e, abaixo deles, estão os filmes ruins de Adam Sandler  — Mistério em Paris, continuação de Mistério no Mediterrâneo de 2019, é um deles. Repetindo a parceria com Jennifer Aniston, o longa da Netflix é uma comédia que não faz rir ao mostrar o casal envolvido em mais uma investigação de uma morte misteriosa — que, eventualmente, se multiplica em outras baixas. Nem o carisma de Jennifer ajuda nas piadas bocós de Sandler, que se mostra cada vez menos interessado em ser um bom comediante.

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