Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Em Cartaz Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Raquel Carneiro
Do cinema ao streaming, um blog com estreias, notícias e dicas de filmes que valem o ingresso – e alertas sobre os que não valem nem uma pipoca
Continua após publicidade

As inspirações LGBT+ por trás da vilã de ‘A Pequena Sereia’

Ícone das animações da Disney, a personagem se tornou admirada pela comunidade devido ao caráter extravagante e semelhanças com uma drag queen

Por Thiago Gelli Atualizado em 17 Maio 2023, 17h44 - Publicado em 17 Maio 2023, 14h58

Em camisetas, lancheiras, brinquedos e outros itens de merchandising, vilões da Disney são tão rentáveis e reproduzidos quanto suas vítimas, as princesas. Eles conquistam espectadores de todas as idades com canções encantadoras e o apelo único de sua extravagância, marca que nunca foi tão transparente quanto nos tentáculos, na maquiagem e no lamento da bruxa do mar Úrsula, de A Pequena Sereia: nas vozes de Pat Carroll no original e Zezé Motta na versão brasileira, ela é excessiva, felliniana, maliciosa e avessa aos padrões de beleza das mocinhas, uma explosão de humor ambíguo e estranheza — qualidade que, em inglês, pode ganhar outro nome: “queer.”

O anglicismo se refere a tudo aquilo marginalizado das convenções do normal. Carregada de estigma, a palavra era mais comum na boca de homofóbicos, que a utilizavam para descrever todo o leque da comunidade LGBTQIA+. Até que, implacáveis, seus membros a adotaram e a renovaram: “queer”, agora, é celebração das diferenças e da suspensão de regras. Assim, a vilã pode ser apreciada por seus signos visuais e afetações dignas de drag queen

Úrsula, porém, não atrai apenas pela excentricidade que compartilha com personagens como Jafar, de Aladdin, e Scar, de O Rei Leão, — ambos desenhados pelo animador gay Andreas Deja. Além de meros códigos, ela é a única personagem do universo Disney baseada diretamente em uma figura real: a explosiva Divine, persona do ator Harris Glenn Milstead, alçada à fama no escatológico Pink Flamingos, do cineasta John Waters — autor que já declarou: “Quando era jovem, tudo que queria ser era um vilão da Disney. Minha ídola era a madrasta da Cinderella.”

Com as palavras “matem todos agora! Perdoem assassinato de primeiro grau! Apoiem o canibalismo! Comam fezes! A sujeira é minha política, a sujeira é minha vida!”, Divine entrou para a história do cinema e da arte queer. No papel de uma assassina, ela disputa pelo título de “pessoa mais suja do mundo” e passa por uma trajetória que envolve crueldade animal, incêndio culposo, sequestros e mais. Pink Flamingos foi o começo de uma parceria com Waters que durou o resto de sua vida, na qual encarnou as mais diversas personalidades provocativas, de Problemas Femininos até o mais leve Hairspray, lançado meses antes de sua morte causada por uma condição cardíaca.

Continua após a publicidade
Em 'Multiple Maniacs', de 1970, Divine interpreta a mais perversa sequestradora de uma gangue
Em ‘Multiple Maniacs’, de 1970, Divine interpreta a mais perversa sequestradora de uma gangue (Reprodução/Reprodução)

Divine viveu pela arte do choque e do que chamava de “mau gosto”, utilizados como arma contra a rigidez da produção hegemônica americana e seus pombinhos e finais felizes. O estúdio Disney, com certeza, seria o último a contratá-la. À época, imaginar personagens explicitamente alheios à dita “heteronormatividade” estava longe dos planos da empresa de Mickey Mouse. Hoje, ele dá pequenos passos, pressionado a responder o extremismo de figuras políticas como Ron DeSantis, governador da Flórida responsável pela lei “Don’t Say Gay” (não diga gay, em português), medida que criminaliza escolas que tratem temas sobre questões de gênero para crianças. Ainda assim, profissionais da Pixar denunciam a censura da empresa à representação de homoafetividade.

Mas em 1989, ano em que saiu o Pequena Sereia original, a conexão à artista pareceu natural ao roteirista Howard Ashman, que cresceu na mesma cena gay da cidade de Baltimore que Divine e Waters. Ao notar a semelhança da drag queen com os primeiros esboços da vilã feitos pelo desenhista Rob Minkoff, a decisão foi feita.

Continua após a publicidade

Mais de 30 anos depois, o remake live-action recruta a comediante Melissa McCarthy para dar carne e osso ao papel. A escolha não veio sem críticas: muitos esperavam que, em honra a Divine, o profissional contratado fosse uma drag queen — Nina West, ex-participante do reality Rupaul’s Drag Race, foi forte concorrente. Ainda assim, McCarthy reforça: “Sou uma enorme fã de shows de drag. Existe uma drag queen dentro de mim, sempre estou à beira de viver como ela o tempo todo. Manter o humor, a tristeza e o atrevimento de Úrsula é tudo que quero em uma personagem — e, francamente, tudo que quero em uma drag queen.”

Sua sombra verde-água, sobrancelhas desenhadas e batom vermelho agora estampam cartazes pelos cinemas do país e do mundo. Resta aguardar para ver o quão deliciosamente vil permanece a personagem — sua canção mais famosa, Corações Infelizes, ou Poor Unfortunate Souls, no original, sofreu mudanças para reforçar valores éticos da contemporaneidade. A Pequena Sereia tem estreia marcada para 25 de maio.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.