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‘Suprema’: O real e a ficção no filme sobre a juíza Ruth Bader Ginsburg

Juíza da Suprema Corte americana foi homenageada em longa com Felicity Jones, lançado em 2018

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 set 2020, 13h19 - Publicado em 21 set 2020, 11h00

A morte da juíza Ruth Bader Ginsburg, aos 87 anos, vítima de complicações de um câncer, comoveu os Estados Unidos na sexta-feira, 18. Ícone na luta pela igualdade de gênero e segunda mulher a ocupar uma cadeira na Suprema Corte americana, Ruth foi tema de um belo filme, Suprema, estrelado pela inglesa Felicity Jones. A produção acompanha os primeiros anos da jovem ainda estudante, nos anos 1950, quando Harvard passou a aceitar mulheres no curso de direito, até seu primeiro grande caso, que lhe abriria portas na profissão.

Confira abaixo o que é real e o que é ficção no longa de 2018, exibido no Brasil nos cinemas, e hoje disponível em canais de streaming como HBO Go e Prime Video, da Amazon; e para aluguel, em plataformas como o Now.

Ruth assistiu aulas pelo marido enquanto ele lutava contra o câncer

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Um dos primeiros dilemas enfrentados por Ruth no filme é o diagnóstico de câncer de testículo do marido Martin Ginsburg (vivido por Armie Hammer). Na época, nos anos 1950, a notícia era grave e a longevidade do rapaz foi colocada em xeque pelos médicos. O casal decide lutar contra a doença, sem abandonar o plano de se formarem em direito em Harvard. Para isso, no longa, Ruth passa a assistir às aulas no lugar do marido, em uma jornada tripla, entre suas próprias aulas e cuidados com a família. Na realidade, Ruth não estava sozinha e boa parte da ajuda que Martin recebeu veio de amigos de ambos. Ela e os colegas anotavam ao máximo o conteúdo das aulas e depois ensinavam Martin durante seu tratamento. Ruth ainda ajudou o marido a finalizar os trabalhos, que eram entregues dentro das datas, para que ele se formasse. Ao fim do curso, Martin voltou às aulas pessoalmente, e se formou com ótimas notas. Ele morreu em 2010, contrariando o prognóstico médico de poucos anos de vida após a descoberta do câncer.

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A dificuldade de conseguir emprego por ser mulher

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Melhor aluna da classe – como mostra o filme, Ruth se transferiu de Harvard para Columbia, onde se formou –, a futura juíza da Suprema Corte americana realmente teve dificuldades para encontrar trabalho após a formatura. A produção faz alguns recortes da realiadde. Entre ser recusada por firmas de advocacia e se tornar professora de direito na Universidade Rutgers, em Nova Jersey, ela chegou a trabalhar em tarefas administrativas para juízes. Em entrevista, Ruth contou que um juiz disse que não a contrataria, pois não se sentiria livre para xingar perto de uma mulher – cena parecida com uma feita pelo filme, mas com um advogado dono de uma firma que não a contrata para não causar um desconforto com as esposas dos advogados da empresa, que poderiam ter ciúme dela. Mesmo como professora, a advogada sabia do preconceito contra mulheres. Por isso, durante sua segunda gravidez, escondeu a barriga com roupas largas e bolsas grandes, até ter seu contrato anual renovado.

Casamento igualitário

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Ruth Bader Ginsburg costumava exaltar a boa parceria entre casais como uma maneira de melhorar as chances de igualdade entre os gêneros na sociedade. Ela vivia isso na prática, como mostra o filme. Seu marido, Martin, aparece em cenas dividindo com ela tarefas de casa, entre elas cozinhar – algo que ele amava fazer: Martin era quem cozinhava os jantares para os amigos de Ruth, quando os visitavam. Ambos apoiavam um ao outro durante a faculdade e na busca pela consolidação da carreira.

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O primeiro grande caso

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No filme, o primeiro caso como advogada da então professora foi em 1972, defendendo Charles Moritz, um homem solteiro que não tinha pela lei o direito de deduzir do imposto de renda as despesas com o cuidado com a mãe – direito que era coberto pela lei apenas para mulheres solteiras, e não para cuidadores do sexo masculino. Na realidade, esse não foi o primeiro caso defendido por Ruth nos tribunais, mas foi, sim, o que lhe deu maior visibilidade. E, como ela esperava, abriu precedentes na legislação para que outros casos de discriminação por gênero seguissem adiante com chances de vencer. O longa também é fiel ao mostrar que Martin participou do caso – ele era especialista na área tributária, e foi quem encontrou o caso e sugeriu que a esposa o assumisse.

A juíza, porém, chegou a ressaltar que uma das cenas mais instigantes, em que a atriz Felicity Jones congela e não consegue, inicialmente, fazer sua defesa – para depois voltar e arrasar —, não aconteceu daquele jeito: “eu nunca titubeei”, disse Ruth.

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